Biotecnologia e alimentação

Embora a aplicação da transgenia faça parte do nosso cotidiano, as discussões e os tabus sobre o tema nunca deixaram de existir Paul Berg, Nobel de Química, pegou o mundo de surpresa em 1972, ao realizar, pela primeira vez, a transferência de um gene de um ser vivo para outro. Era o início da biotecnologia, que 50 anos mais tarde estaria presente em novas terapias gênicas, nos alimentos geneticamente modificados e na produção de vacinas contra doenças como a Covid-19. Embora a aplicação da transgenia esteja presente em nosso cotidiano (no Brasil, 92% da soja, 90% do milho e 47% do algodão são transgênicos, segundo dados da Embrapa), as discussões e até mesmo tabus sobre o tema nunca deixaram de existir. Globo Rural Se nós driblamos a teoria malthusiana no século XX com a introdução dos adubos nitrogenados, ao que tudo indica só vamos manter o vaticínio de Malthus no terreno da ficção no século 21 com o uso de novas tecnologias, a exemplo da transgenia. Em 2050, seremos 9 bilhões de pessoas no planeta. Se os padrões tecnológicos adotados até a década de 1960 se mantiverem, será necessário duplicar as áreas de produção para a manutenção dos níveis atuais de acesso aos alimentos. Isso seria um motivo mais do que razoável para que avessos às tecnologias e defensores da natureza repensassem suas posições, especialmente porque a expansão de novas áreas de cultivo implicaria na devastação de florestas na irrigação artificial de desertos e na drenagem de pântanos, já que nós já utilizamos quase todas as áreas agricultáveis do planeta Leia mais análises e opiniões de especialistas e lideranças do agro Aumentar a produtividade é a alternativa mais sensata. Do ponto de vista do consumo humano, após 25 anos de uso de sementes transgênicas, não há um único relato de caso prejudicial à saúde. Tudo bem, não é um horizonte tão vasto assim, mas o fato é que existem casos em que alimentos geneticamente modificados foram abandonados ao longo do caminho por não terem passado pelos severos crivos dos órgãos de controle. Isso reforça sua confiabilidade. É o caso do feijão enriquecido com genes de proteínas da castanha-de-caju, que, nos testes, mostrou-se alergênico para algumas pessoas (mas vejam: para aquelas com intolerância à castanha-de-caju, e não pelo fato de ser um transgênico). Mesmo assim, o projeto foi abandonado, porque não passaria pelas rígidas regras de aprovação de um alimento transgênico. Em média, entre concepção, desenvolvimento, testes e aprovação, a liberação de um transgênico demora 15 anos. Esse processo caro e demorado só pode andar com o suporte de grandes empresas. Isso gera outra saraivada de críticas por parte de setores da sociedade que ressaltam a concentração de poder em poucas mãos, mas essa é mais uma questão que precisa ser analisada sob outros ângulos. O fato é que as biotecnologias são um assunto recente no mundo e ainda carecem de análises jurídicas, éticas e sociais. Infelizmente, a oposição mais forte ocorre nos países de maior necessidade alimentar, instigados pelo ativismo dos países desenvolvidos. Como bem salientou a pesquisadora queniana Florence Wambugu, ativista que defende o aumento da produção de alimentos na África, "vocês, pessoas do mundo desenvolvido, certamente são livres para debater os méritos dos alimentos geneticamente modificados. Mas podemos comer primeiro?". *Luiz Josahkian é zootecnista, professor de melhoramento genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural

Março 4, 2024 - 07:02
Biotecnologia e alimentação
Embora a aplicação da transgenia faça parte do nosso cotidiano, as discussões e os tabus sobre o tema nunca deixaram de existir Paul Berg, Nobel de Química, pegou o mundo de surpresa em 1972, ao realizar, pela primeira vez, a transferência de um gen >>>

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