“País inteiro tem de se engajar na causa climática”, diz Roberto Azevedo

06/03/2024 “País inteiro tem de se engajar na causa climática”, diz Roberto Azevedo Roberto Azevedo - Foto Denis Balibouse Reuters Entrevista com Roberto Azevedo Sócio-fundador da YvY Capital e ex-presidente da Organização Mundial do Comércio Por Sonia Racy Na defesa de um planeta ‘verde’, o ex-presidente da OMC, hoje empresário, fala dos perigos se a transição ambiental não avançar. Nada como um negociador experiente, que já foi embaixador em Washington e Genebra e presidiu a Organização Mundial do Comércio (OMC), para analisar os desafios e as saídas para o Brasil e para o mundo, na questão climática – leia-se, a transição energética em escala mundial. Hoje, Roberto Azevedo é um dos sócios da YvY Capital, ao lado de Paulo Guedes e Rodrigo Azeredo, entre outros. A gestora de investimentos foi criada com foco em projetos da transição para a economia verde. E o ex-embaixador começa advertindo: a necessidade de reunir capital para fazer a transição para uma economia sem carbono “é uma certeza inescapável”. O nome do jogo, para o planeta inteiro, é “juntar 40 trilhões de dólares para fazer essa transição”, até 2050. Por aqui, ele avisa que “o Brasil não vai ter dinheiro para dar às empresas”. E lá fora China e Estados Unidos, que juntos representam mais de 50% do problema, não vão bancar essa inevitável transição. Engenheiro pela UnB, diplomata pelo Instituto Rio Branco, Azevedo trocou a diplomacia, em 2020, pela vice-presidência mundial da Pepsico, a multinacional de bebidas e alimentos. Em abril passado, deixou-a para se juntar a esse grupo de brasileiros na YvY Capital. Para ele, é preciso “um meio de caminho, que permita ao setor privado e ao sistema financeiro atuar de maneira dinâmica e em escala”. E acrescenta: “Vendo tudo que vi na OMC e depois na Pepsico, acho que esse é o futuro. E quero continuar fazendo isso, é uma maneira de contribuir com o conhecimento que acumulei até aqui”. A seu ver, “o País inteiro, seja de direita ou de esquerda ou o que for, tem de se engajar na transição ambiental”. Num futuro cenário de aquecimento global, para reduzir o carbono da atmosfera, dos rios e oceanos, das matas e cidades, ele calcula: “O Brasil todo será afetado e não terá dinheiro para dar às empresas”. A seguir, mais trechos da conversa com o Estadão. Pela sua experiência como embaixador e na OMC, como avalia o impacto das guerras na Ucrânia e em Gaza, no desafio climático? Comecemos com um ponto fundamental: a imprevisibilidade das tensões geopolíticas. Isso não ajuda o crescimento da economia global. Ao contrário, desacelera, cria instabilidades e incertezas nos investimentos. E o mundo precisa de muitos investimentos para fazer a transição ambiental. De que modo essa incerteza pode afetar o problema? Eu acho que a agenda climática ambiental é uma certeza inescapável. Pode até haver ruídos, diferentes métodos de abordagem, mas essa agenda veio para ficar. Para chegar à emissão zero, até 2050, a estimativa é de US$ 40 trilhões de investimentos para a transição energética. Nenhum país vai investir esses valores, então eles deverão vir da iniciativa privada. O recurso aos créditos de carbono é uma boa saída? Como ele funciona? É um tanto complexo. Não há acordo global sobre como exatamente esses créditos são gerados e monitorados. A Europa adotou um caminho para essa transição: em setores de grande intensidade energética – como siderurgia, fertilizantes e cimenteiras, que emitem muito carbono – foi estabelecido um limite de emissão. O excedente é taxado em 100 euros por tonelada. Se essa indústria não conseguir zerar as emissões, terá de pagar os 100 euros e comprar o crédito de carbono em algum projeto que reduza a emissão no mercado secundário. A questão ainda é: quem certifica que esse crédito de carbono é legítimo? Essa discussão deve ser feita em foros importantes, como G-20 e OCDE. E o Brasil deve fazer parte disso. Como está a transição energética na China, maior emissora mundial de CO2? Estive na China há uns sete anos. Me chamou atenção, naquela época, o barulho de motonetas nas ruas. Recentemente fui lá e há um silêncio absoluto, porque é tudo elétrico. Estão investindo pesadamente para reduzir as emissões. Produção de painéis solares, energia eólica, fabricação de baterias, e agora o BYD, carro elétrico que está se destacando e preocupando a Tesla. Estive em Xangai e visitei cinco empresas gigantescas nessa área de transição energética. E nos Estados Unidos? Diferentemente da Europa, que penaliza, os Estados Unidos escolheram incentivar investimentos para essa transição. São centenas de bilhões de dólares para as empresas fazerem sua descarbonização. É um projeto federal, e até empresas brasileiras estão indo lá para receber esses incentivos. E, depois, trazer essas tecnologias para o Brasil. E como vê o Brasil no caso? É preciso que haja, aqui, muito diálogo com o setor privado e com a sociedade civil. Conversando com ONGs desse setor, perguntei qual modelo de descarbonização eles achavam lega

Março 6, 2024 - 06:30
“País inteiro tem de se engajar na causa climática”, diz Roberto Azevedo
06/03/2024 “País inteiro tem de se engajar na causa climática”, diz Roberto Azevedo Roberto Azevedo - Foto Denis Balibouse Reuters Entrevista com Roberto Azevedo Sócio-fundador da YvY Capital e ex-presidente da Organização Mundial do Comércio Por Soni >>>

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