Superação: escritora relata experiência em fazenda na Angola pós-guerra

Simone Roncada foi a primeira mulher a trabalhar com zebuínos no país que ainda estava se reconstruindo A paulista Simone Roncada foi a primeira mulher a trabalhar com zebuínos na Angola pós-guerra, onde ficou de 2008 a 2011. Em Cacuso, município que pertence à província de Malanje, a 311 km da capital Luanda, a técnica em Agropecuária, então com 23 anos, acompanhou o renascimento da atividade pecuária no país africano, que teve entre as bases a importação de gado brasileiro. Saiba-mais taboola “Angola estava se reconstruindo da guerra civil, cheguei em meio a um ambiente extremamente perigoso, em que a vida não valia muita coisa devido à cultura da guerra”, conta Simone, que hoje é escritora e palestrante e vive em Belo Horizonte (BH). Os aprendizados que ela trouxe dessa experiência são compartilhados em suas palestras, assim como no livro "A esmeralda de Cacuso", da Editora Sete Autores, lançado em 2022. Para enfrentar o preconceito e o machismo fortemente presentes no país africano após a guerra civil, ela conta que a coragem, a persistência e a empatia foram fundamentais para seguir fazendo parte do projeto. Em três anos de trabalho em uma fazenda no interior de Cacuso, Simone foi acometida nove vezes por malária e 14 vezes por febre tifoide, sem contar o risco de morte devido ao cenário de violência que ainda permeava o local. Simone era a única mulher da equipe Arquivo pessoal Responsável pelo acompanhamento zootécnico e manejo sanitário do rebanho, ela enfrentou ainda dificuldades relacionadas às diferenças e especificidades do ambiente e do manejo do gado. “Tentei adotar técnicas e tecnologias que já usava no Brasil, mas, nem tudo funcionou”, explica. Entre os desafios da atividade agropecuária estavam as plantas tóxicas do pasto nativo e a mosca tsé-tsé, conhecida como mosca do sono. Simone lembra que a fazenda estava localizada em uma área endêmica - a doença atinge áreas rurais da África Subsaariana - e o gado serve como hospedeiro do parasita. Abortamentos e perda de peso dos animais eram algumas das consequências da presença do inseto. “Tive que lidar com doenças que não existiam no Brasil, foi difícil e, no início, boa parte do gado morreu”, conta. Também foi necessário se adaptar ao uso de caminhões pipa durante os períodos de seca e às queimadas, usadas com frequência pelos moradores do entorno como estratégia de caça de animais como ratos e cobras. Simone era responsável pelo acompanhamento zootécnico e manejo sanitário do rebanho Arquivo pessoal Gestão humanizada Na prática, Simone atuava com base nos conhecimentos técnicos voltados à agropecuária e biosseguridade, mas também conduzia o trabalho da equipe na propriedade, adquirindo experiência no planejamento das atividades e na gestão dos trabalhadores que eram de várias nacionalidades: angolanos, portugueses, brasileiros, filipinos e sul-africanos. “Por não ter profissionais no local, fui mais do que técnica, fui veterinária e me tornei a única mulher a gerenciar uma força de trabalho de homens estrangeiros e egressos de guerra dentro de uma fazenda”, enfatiza. Para quebrar as barreiras impostas pelo preconceito e pelo machismo - ela era a única mulher no local -, foi preciso paciência e ações baseadas em gestão humanizada e cooperação. De acordo com Simone, sair com o grupo a cavalo para o pasto e passar o dia na lida com os trabalhadores ajudou na aproximação e na conquista da confiança e da lealdade da equipe. “A maioria nunca tinha trabalhado nesse sistema. Tive muita dificuldade, eles não me ouviam, mas fui entendendo que a cultura deles era muito diferente e me aproximando no convívio do dia a dia”, lembra. Ela ressalta que teve que driblar situações inusitadas e perigosas - só podia sair da fazenda com segurança armado - em troca de uma vivência única. “Foi uma experiência muito enriquecedora e o que mais me marcou foi a alegria e a esperança de um povo para o qual estar vivo era um presente”, frisa. A fazenda em que Simone morou e trabalhou é mantida por um grupo de investidores portugueses, responsável por três áreas rurais em Angola que, juntas, totalizam em torno de 22 mil hectares. Na época, apenas atividade pecuária era desenvolvida na propriedade. Hoje, de acordo com a escritora, a área também conta com agricultura e abriga um hotel resort. Antes de ser selecionada pelo grupo para participar do projeto no país angolano, Simone atuava com gado em uma fazenda paulista. A expatriada chegou a Angola ao mesmo tempo em que foi entregue o primeiro lote de zebuínos brasileiros enviados ao país no pós-guerra, com 4,5 mil cabeças destinadas à procriação. Depois de três anos, ao se desligar da iniciativa, apesar de “bem cansada psicologicamente”, os planos da técnica em Agropecuária eram continuar os estudos na área, mas, durante passagem pela África do Sul ela se casou, mudou-se para a Dinamarca e só então retornou ao Brasil. Para ela, a história da mulher que sozinha permaneceu em uma fazenda na savana africana - inicialme

Março 8, 2024 - 07:00
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