Quais são os alimentos com os dias contados e qual é o futuro da segurança alimentar

Pesquisadores buscam plantas que possam garantir a alimentação da população do planeta em meio aos cada vez mais frequentes extremos climáticos A batata solanum calvescens (ou s. chacoense) era tida como lenda entre os pesquisadores brasileiros. Foi vista em uma das expedições de reconhecimento da flora nacional pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire no século XVIII e descrita pelo botânico alemão Friedrich Bitter em 1912. Depois, nunca mais. Com ela, seriam quatro as espécies silvestres encontradas no Brasil. Mas só essa seria endêmica - só havia aqui. Saiba-mais taboola Em 2008, ao ouvir de um produtor a possibilidade de tê-la reconhecido, a especialista da Embrapa Caroline Castro não titubeou. Como nos velhos tempos, montou sua expedição. Ela e a fonte saíram em busca da batata perdida por uma trilha no sul de Minas Gerais, em plena Serra da Mantiqueira. Lá estava o exemplar, que tratou de depositar no banco ativo de germoplasma de clima temperado da Embrapa - o acervo com os tesouros da memória vegetal da região criado nos idos da década de 1980. A batata não parece muito diferente daquelas que se comem no dia a dia. Mas é amarga, como as parentes silvestres, por causa dos glicoalcaloides, mecanismo natural de defesa de plantas rústicas, tóxico se ingerido em quantidade. Seu valor estaria na capacidade de adaptação a ambientes inóspitos. Uma das culturas mais importantes do mundo, a batata, principal hortaliça produzida e consumida no país - que é autossuficiente -, pode estar com os dias contados. Isso explica o entusiasmo de Castro e seus colegas, que apostam na resistência de plantas nativas, esquecidas pelo tempo, como uma das soluções a uma questão que aflige o mundo inteiro: o futuro da segurança alimentar. Alexandre Antonelli: “O mundo está ficando muito mais quente, muito mais imprevisível” Divulgação Elas podem ajudar os cientistas a chegar a espécies mais fortes, produtivas e ricas em nutrientes a partir da adaptação do cultivo, da edição e modificação genéticas e do que cientistas consideram como necessária alteração de hábitos alimentares. Afinal, por que não consumir espécies semelhantes ou nativas? Claro que a batata do futuro terá de ser apetitosa. Os cientistas também estão se encarregando disso. A mudança do clima e os extremos climáticos cada vez mais frequentes impõem níveis de estresse que podem fazer desaparecer sementes, grãos e vegetais levados à mesa hoje. O brócolis é um deles, de acordo com uma pesquisa da Embrapa, que submeteu a altas temperaturas variantes comerciais consumidas do Brasil. Num primeiro momento, a entidade vem tentando identificar, dentre materiais genéticos disponíveis, quais têm mais potencial de adaptação às novas condições. Para quem gosta de alface, a boa notícia é que, das 12 variedades disponíveis comercialmente, 3 tipos de alface crespa verde teriam aguentado temperaturas extremas na câmara de crescimento da entidade. As outras apresentaram danos imensos, muitas com “produtividade nula”. Os testes simulam as temperaturas previstas para o fim do século, assim como intensidade luminosa e emissões de carbono. O painel intergovernamental de mudança do clima calcula algo na casa de 3,5 a 4 graus a mais. Os pés de alface da Embrapa estiveram sob temperaturas médias entre 31 e 35 graus - a média do país está atualmente em 25 a 26 graus. “Aqui, não estamos falando de outros extremos climáticos como secas, ventos e alagamentos. Imagine todos somados. Não usamos ainda os genótipos perdidos nos bancos de germoplasma. É um ‘screening’ para tentar encontrar matérias promissoras. Há ainda as ferramentas de melhoramento genético, genética molecular”, diz Carlos Pacheco, especialista da Embrapa Hortaliças que se ocupa desses testes. O “Relatório Estado Mundial das Plantas e Fungos”, de Kew Gardens, maior jardim botânico do mundo e um dos maiores depositários do acervo vegetal do planeta, revelou que cerca de 45% das plantas do globo estão sob risco de extinção. Os dados foram divulgados em outubro de 2023. Caroline Castro, da Embrapa, saiu em busca da batata perdida, uma lenda entre pesquisadores Divulgação Em entrevista ao Valor, o diretor científico de Kew, o brasileiro Alexandre Antonelli, afirma que, na Mata Atlântica, 82% das árvores nativas endêmicas desapareceram. No mundo, a redução bateu os 69% no período. Em 50 anos, 94% dos animais selvagens da América Latina foram dizimados. A necessária adaptação dos itens consumidos pela população global, que ultrapassou 8 bilhões de bocas no ano passado, é um desafio. Dono da maior biodiversidade do mundo e principal fornecedor de alimentos para o planeta, o Brasil pode ser chave neste momento de transição, segundo Antonelli. De seu território podem sair respostas para espécies novas, antigas ou simplesmente adaptáveis, além de parcerias para pesquisa. Mas é preciso saber aproveitar, e logo, as oportunidades para enfrentar o duplo desafio econômico e de segurança alimentar. A agricultura representa aproximad

Março 15, 2024 - 13:30
Quais são os alimentos com os dias contados e qual é o futuro da segurança alimentar
Pesquisadores buscam plantas que possam garantir a alimentação da população do planeta em meio aos cada vez mais frequentes extremos climáticos A batata solanum calvescens (ou s. chacoense) era tida como lenda entre os pesquisadores brasileiros. Foi >>>

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