Mercado de créditos de carbono ganha espaço no agro brasileiro

Discussões sobre regulamentação ainda estão em andamento no Congresso Há 54 anos, o agrônomo Sérgio Vergueiro decidiu ir à Amazônia para criar gado. Logo de início, ele decidiu adotar no local, a Fazenda Aruanã, uma prática pouco usual: preservar faixas de floresta entre cada lote para evitar o desmate contínuo de longas porções de terra. Uma década depois, com a degradação dos pastos, optou por mudar de atividade e apostar no plantio de castanheiras. Saiba-mais taboola Atualmente, Vergueiro tem uma propriedade repleta de árvores em pé – nativas e plantadas – e o título de maior reflorestamento de castanheiras do Amazonas. Esse trabalho acaba de render a ele 2,2 milhões de créditos de carbono, que podem ser vendidos para quem quiser compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). A trajetória de Vergueiro ainda é raridade no agronegócio brasileiro, mas é um dos exemplos do número crescente de produtores rurais que têm acessado o mercado de carbono – ferramenta que, segundo as conclusões da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas do ano passado, a COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é fundamental para que o mundo consiga neutralizar as emissões de GEE até 2050 e limite o aquecimento global a 1,5ºC até o fim do século. O agrônomo Sérgio Vergueiro gera créditos de carbono com o maior reflorestamento de castanheiras do Amazonas Anna Carolina Negri Nesse mercado, os diferentes gases de efeito estufa são convertidos em gás carbônico, e cada tonelada de gás carbônico equivalente que deixou de ir para a atmosfera ou que foi capturada corresponde a 1 crédito de carbono. No Brasil, esse mercado deve ganhar impulso com o projeto de lei 2.148/2015, que regulamenta o mercado de carbono no país. A Câmara dos Deputados aprovou o texto no fim de 2023, e agora o Senado vai analisar a matéria. O projeto cria regras para o mercado regulado de carbono, em que os agentes privados têm que obedecer a regras como a limitação de emissões e a compra de créditos para compensar emissões que excedam suas obrigações. Initial plugin text O que já funciona no Brasil é o mercado voluntário, em que aqueles que realizam alguma atividade que poupa emissões vendem o direito de economizar carbono para quem emitiu demais – geralmente, empresas que têm compromissos voluntários de redução de emissões. Embora o foco do projeto de lei seja o mercado regulado, o texto em análise também prevê regras para o mercado voluntário. A previsão é que os geradores de créditos de carbono registrem seus ativos no Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que aceitará créditos gerados a partir de determinadas metodologias. Com um sistema de registro, ficará mais fácil rastrear os projetos existentes e vendê-los tanto para quem tem obrigação legal de reduzir emissões quanto para quem tem compromissos voluntários. Globo Rural É no mercado voluntário que Vergueiro oferta seus créditos de carbono: para essa tarefa, ele utiliza uma plataforma da Tero Carbon, startup amazonense que atua na certificação e também na comercialização do crédito. “Foi uma consequência natural da nossa atividade”, conta o agrônomo, hoje com 85 anos. O projeto da Fazenda Aruanã é a primeira certificação da Tero Carbon, que iniciou suas atividades competindo com grandes certificadoras internacionais. Atualmente, o mercado voluntário se concentra em poucas grandes certificadoras – a principal delas é a Verra, que tem hoje 90% do mercado brasileiro de créditos de carbono. Essas certificadoras criam suas próprias metodologias de cálculo de redução ou remoção de emissões de acordo com o tipo de atividade, certificam os projetos e os colocam para venda. A atividade rural pode gerar dois tipos de créditos de carbono: a partir da conservação ou restauração da vegetação nativa – são os créditos do tipo REDD+ (sigla para Redução de Emissões de Desmatamento e da Degradação) – ou de mudanças no manejo que emitem menos GEE do que o manejo usual – são os créditos do tipo AFOLU, sigla em inglês para Agricultura, Florestas e Outros Usos do Solo. Na prática, os projetos que existem no Brasil são basicamente de REDD+, o tipo mais consolidado no país, afirma Daniel Vergas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da FGV e coordenador de pesquisas do FGV Agro. O motivo para a falta de projetos do tipo AFOLU é que ainda não há uma metodologia considerada compatível com as atividades agropecuárias brasileiras. Algumas iniciativas têm tentado estabelecer uma metodologia “tropical”, mas ainda não há nada concluído. Initial plugin text Um dos projetos mais avançados é a iniciativa ProCarbono, da Bayer. Há três anos, a multinacional alemã selecionou 2.000 produtores brasileiros para aplicar novos métodos de manejo e calcular quanto essas práticas aumentaram a fixação de carbono no solo. Neste ano, a empresa fará a coleta de amostras e determinará quanto as práticas indicadas resultaram em captura de carbono da atmosfera. Se

Março 16, 2024 - 08:45
Mercado de créditos de carbono ganha espaço no agro brasileiro
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