Da horta ao prato: assentamento no Paraná garante melhoria de vida à comunidade
Agricultura Da horta ao prato: assentamento no Paraná garante melhoria de vida à comunidade A produção, livre de agrotóxicos, é comercializada por meio dos programas governamentais e chega à merenda escolar das escolas da região 26/03/2024 10:00 Roberta Aline/MDS Construção coletiva de resistência, com base na agroecologia, em favor das pessoas e respeitando a terra que entrega o que ali é semeado. Assim começa a história do assentamento Emiliano Zapata, localizado no município de Ponta Grossa, no Paraná, quando, em 26 de agosto de 2003, um grupo de trabalhadores sem-terra pegou a estrada com lonas pretas embaixo do braço e se instalou nos 630 hectares da Fazenda Modelo. No último dia 16 de março, o que era acampamento se transformou em terra com título para as 51 famílias que resistiram no local durante 21 anos. A produção da comunidade, livre de agrotóxicos, é comercializada por meio dos programas governamentais. Nas escolas municipais da região, as crianças se alimentam com os produtos saudáveis que saem da horta direto para o prato dos meninos e meninas. Muitas vezes, os alunos são os filhos dos pequenos agricultores da região. A história do assentamento confunde-se com a trajetória de vida do casal Ana Paula Lourenço, 39 anos, e Josué de Araújo, 43 anos. “Vim da cidade pra roça em busca de uma vida melhor, mais digna. Poder viver com mais autonomia, produção. A gente quer ter o espaço de vida da gente, sair da pobreza e vir para uma vida melhor”, conta Ana Paula, que trabalhava em fábricas da região de Ponta Grossa sem carteira assinada, recebendo apenas o valor do dia trabalhado. A pequena produtora rural, agora assentada, mãe de um menino e uma menina, relata que hoje a família consegue ter reservas financeiras, com uma renda de aproximadamente R$ 3 mil mensais. “Hoje eu sou milionária. Consumo alimento saudável que produzo aqui na minha terra. Vendo esse alimento por meio da cooperativa. Aqui a gente vive no céu, consegue juntar um dinheirinho”, comemora. Mas nem sempre foi assim. Por anos, tudo o que a família colhia da terra que cuidava e semeava era destinado à compra de mudas para conseguir manter a produção. “Todo dinheirinho que a gente trabalhou, muitas vezes por dia, a gente investia em mudas para a produção, para lá na frente produzir mais e crescer aquela renda. Foi através desse tipo de trabalho que conseguimos nos estruturar aqui, produzindo e investindo, tudo por meio dos nossos próprios recursos, trabalho e esforço de vinte anos”, compartilha Ana Paula. Com produção inclusa no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) há mais de 15 anos, o alimento produzido pelas 51 famílias ali acampadas passou a ser comercializado localmente a partir da criação de uma associação, que depois virou cooperativa, em 2012. Da horta direto para a alimentação escolar. Sobre a importância da organização comunitária, Josué aponta que a produção ganha valor agregado. E que os assentados ali no Emiliano Zapata planejam dar um passo adiante com a instalação de equipamentos para beneficiar os alimentos produzidos. “Na parte do orgânico, temos 30% a mais. No milho, é isso. Quando se vende para cooperativas de fora, elas já vêm ganhando e, com isso, (é possível) conseguir moer o próprio milho e fazer a própria produção, vai valorizar, vai chegar direto no consumidor, no supermercado”. Roberta Aline/MDS Autonomia e segurança Hoje com produção variada de mais de 30 espécies de cultura, a comunidade que nunca abandonou a caminhada em busca da reforma agrária conta com o título da terra. Isso, para Ana Paula e Josué, significa mais autonomia e segurança. “Não ter medo de ser despejado, de um dia não poder mais continuar no nosso trabalho, nossa vida. Representa o futuro, a nossa independência, uma vida mais digna”, afirmam. O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, destacou a importância do trabalho realizado no assentamento para a promoção da segurança alimentar e nutricional. “Quando a gente diz que a agricultura familiar é a que mais leva comida para a mesa de cada brasileiro, do mais pobre ao mais rico, significa que cada produto que chega tem a mão, em boa parte, do trabalhador e da trabalhadora da agricultura familiar, assentados, não-assentados, povos da floresta, pescadores”, salientou. Para a agricultora, uma produção livre de agrotóxico “dá sensação de vida”. “É vida mais saudável, mais tempo de vida para a população, para a nossa sobrevivência. A satisfação de estar cumprindo nosso papel na sociedade. Nós comemos a comida que produzimos e queremos comida saudável para todos”, explicou. Durante visita ao assentamento, o titular do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, lembrou ainda que uma das propostas do Governo Federal é investir em inovação. “É preciso, cada vez mais, trabalhar com tecnologia, sair da enxada para o trator, ter as condições do controle da água, de toda a produção”, enfatizou. A not
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