Conheça o pastoreio rotatínuo, sistema que auxilia na rentabilidade leiteira
Modelo mistura conceitos de manejo extensivo e rotacionado para garantir que animais consumam o maior volume de pastagem possível, reduzindo custos com aumento de produção Nem extensivo e nem rotacionado: rotatínuo. O modelo de pastoreio que tem garantido aumento de produtividade e renda a mais de três mil pecuaristas do Sul do Brasil é uma mistura das duas formas de manejo mais praticadas no país e, de acordo com seu idealizador, subverte lógica adotada em sistemas de criação até aqui. “Diferente dos demais tipos de manejo, que estão sempre focados no ciclo de vida do pasto, o pasto rotatínuo parte do comportamento natural dos animais e, ao fazer isso, acaba produzindo propostas diferentes das atuais”, explica o zootecnista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo César de Faccio Carvalho. Leia também Verão quente e úmido causou perda de até 30% na produção de leite no RS A partir do comportamento dos animais, o pesquisador constatou que os bovinos têm preferência por consumir apenas a porção superior do pasto no período da manhã e do final da tarde. “Não existe nenhuma razão no mundo selvagem para um animal que está solto e livre comer as outras partes da planta, ele jamais faz isso. Quem inventou de comer mais que isso foi o homem porque o homem interpreta que não pode perder”, observa o zootecnista. A gente passou de pastor a ditador, subtendo os animais a conceitos absolutamente antrópicos O resultado é maior consumo de pastagem pelos animais em menos piquetes, já que o intervalo entre entrada e saída dos animais também diminui. “Isso significa menos trabalho manual para conduzir as vacas com um efeito enorme sobre a mão de obra”, destaca o pesquisador. Ao todo, mais de três mil pecuaristas já aderiram ao modelo, difundido em parceria com o Sebrae, Sindilat (Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do RS) e outras entidades do setor. Esquema do pastoreio rotatínuo Thiago de Jesus/Globo Rural Desde 2019 com o sistema implantado na sua propriedade, o produtor Tadeu Debona conta que a sua renda praticamente dobrou com o aumento de produtividade. “Nos primeiros meses a gente já teve um salto de produção bem grande. A gente estava com 14 litros por vaca e fomos a 22, chegando a uma média de 29 litros hoje em dia”, revela. Com mais tempo livre, ele a família passaram a investir na produção de derivados como queijos, iogurtes e doces – o que também contribuiu para o aumento da renda. Atualmente, 30% de toda a matéria-prima captada é beneficiada na propriedade. Com o Selo Arte do Ministério da Agricultura em mãos, ele planeja expandir o laticínio nos próximos anos, conseguindo, assim, processar toda a sua produção. Saiba-mais taboola “O tempo é uma coisa subestimada dentro do sistema, mas é importante dizer que dá para ter uma vida digna na pequena propriedade sem trabalho excessivo”, ressalta o professor da UFRGS. De acordo com ele, o pasto rotatínuo ataca três dos quatro problemas mais mencionados pelos produtores que decidem abandonar a pecuária de leite: custo, preço do leite e mão de obra – o quarto problema mais citado é a sucessão familiar. “Quando você diminui o custo – e essa ordem de grandeza é de cerca de 30% mais ou menos – e aumenta a produção, o produtor passa a esquecer o grande problema dele, que é o preço do leite”, observa o pesquisador. Segundo ele, 60% dos produtores desistiram da atividade nos últimos oito anos por conta dos desafios enfrentados no setor. “Trata-se do fenômeno socioeconômico mais dramático do agro”, argumenta Paulo. Processos Nesse sentido, ele destaca o pastoreio rotatínuo como uma ferramenta estratégica pra garantir a permanência no campo, já que a sua adoção não tem custo. “É uma tecnologia de processos, e não de insumos, e com uma cascata de consequências positivas rapidamente percebidas pelo produtor”, comenta. Não à toa, a sua disseminação se tornou ponto central do programa Produção Integrada em Sistemas Agropecuários (PISA) oferecido pelo Sebrae-RS. O esforço, contudo, não tem sido suficiente para estancar a “sangria” dos pequenos produtores. Paulo conta que a demanda é alta e há fila de espera para receber treinamento para adoção da tecnologia. “Temos conversado com iniciativas para começar em Mato Grosso e Goiás. Em Minas Gerais começamos no ano passado. Então, cada vez mais o sistema tem passado por uma maturação de conhecimentos de resultados”, completa o pesquisador.
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