‘Mato’ no prato

Azedinha, bertalha, cará-moela, capuchinha, mangarito, vinagreira, araruta, ora-pro-nóbis, peixinho, taioba, entre outras. Se nunca ouviu falar em nenhum desses nomes, os chefs de cozinha mais antenados da “nova gastronomia” já descobriram seus benefícios. Elas são as plantas alimentícias não convencionais – ou simplesmente PANC –, que vêm ganhando espaço no mercado, especialmente diante da demanda por uma alimentação mais natural e saudável, sem deixar o sabor de lado. As PANC abrangem desde plantas nativas e pouco usuais até exóticas e silvestres, com uso alimentício direto (na forma de legumes, frutos, verduras, flores, castanhas, sementes, raízes etc) e indireto (amidos, féculas, farinhas ou óleos). Sabor e altos valores nutricionais e medicinais são algumas de suas vantagens, fora que as plantas alimentícias não convencionais são espécies rústicas e adaptáveis, tanto no campo quanto nas cidades, por exigirem poucos insumos agrícolas e serem boas opções de cultivo, especialmente para agricultores familiares no meio rural e até mesmo em áreas urbanas. Muitas delas, antigamente, eram vistas como pragas e até mato, mas isso vem mudando graças aos recentes estudos científicos que vêm atestando seus benefícios para a saúde do corpo humano e aos precursores em pesquisas com esse tipo de alimento, como é o caso do biólogo Valdely Kinupp, criador do termo “PANC” no País. Velhas conhecidas Se para a maioria dos consumidores as PANC ainda são desconhecidas, para os antigos agricultores familiares o cenário é outro. É o que afirma a agrônoma Mariella Camardelli Uzêda, pesquisadora da Unidade de Agrobiologia (RJ) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Essas plantas rústicas e ruderais, que estão hoje no auge da mídia, além de terem potencial alimentício, possuem também um grande valor nutricional e medicinal, sendo que muitas delas fizeram e fazem parte da alimentação e da saúde de agricultores e agricultoras familiares de várias regiões do Brasil”, destaca Mariella. Para a pesquisadora, como as PANC ainda são desconhecidas da maioria das pessoas que vive nos centros urbanos, é importante conhecê-las, antes de consumi-las, considerando que elas nascem com mais vigor em quintais, hortas e até mesmo em terrenos baldios. “Nem todas que são espontâneas podem ser alimentícias. Existem famílias de plantas que, apesar de serem comestíveis, apresentam toxidez, sendo possível comer somente cozidas ou refogadas, como é o caso da taioba (Xanthosoma sagittifolium).” Precursor no Brasil A sigla “PANC”, que se refere à planta alimentícia não convencional, foi criada no Brasil pelo biólogo e doutor em Agronomia Valdely Kinupp.  Em parceria com o engenheiro agrônomo e fundador do Instituto Plantarum, Harri Lorenzi, ele escreveu o livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil”. Publicada pelo mesmo Instituto, localizado no município de Nova Odessa (SP), a obra é fruto de uma pesquisa dos especialistas, que durou 12 anos e rendeu um catálogo com 351 espécies. Segurança alimentar Mariella explica que “a diversidade agrícola tradicional e a grande quantidade de espécies silvestres comestíveis representam as inúmeras possibilidades existentes de alimentar de forma autônoma e adequadamente nutritiva”. “As comunidades, que fazem uso da agricultura de subsistência, geralmente cultivam uma grande quantidade de variedades de plantas alimentares. Porém, de acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, atualmente, a população alimenta-se mal, tanto em quantidade quanto em qualidade”, alerta. Segundo a agrônoma, “isso é percebido quando olhamos para as prateleiras dos supermercados”. “A globalização homogeneizou a alimentação brasileira, ocasionando perdas da diversidade de alimentos locais e regionais.” De acordo com a Lei n º 11.346 de 15 de setembro de 2006, que criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), menciona Mariella, “a segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”. “É notável a importância do reconhecimento das plantas espontâneas alimentícias e a promoção do cultivo e consumo, assim como sua valorização no mercado, para a garantia da segurança e soberania alimentar da população.” É preciso cuidado ao consumir a taioba porque há espécies não comestíveis. Foto: Matos de comer O malvavisco é exemplo de flor comestível. Foto: Divulgação Rústicas e de fácil manutenção Doutor em Agronomia na área de Fitotecnia e Olericultura e pesquisador da Unidade Hortaliças (DF) da Embrapa, o agrônomo Nuno Rodrigo Madeira reforça que, apesar de pouco difundidas, as PANC são alternativas de alimentação e melhoria de renda para os agricultores

Abril 11, 2024 - 12:17
‘Mato’ no prato
Azedinha, bertalha, cará-moela, capuchinha, mangarito, vinagreira, araruta, ora-pro-nóbis, peixinho, taioba, entre outras. Se nunca ouviu falar em nenhum desses nomes, os chefs de cozinha mais antenados da “nova gastronomia” já descobriram seus benefício >>>

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