Atoleiros em estradas prejudicam produtores no interior do Rio Grande do Sul
No muncípio de Joia, família desiste de produzir leite porque caminhão não consegue acessar a propriedade As chuvas intensas que vêm ocorrendo no Rio Grande do Sul nas últimas semanas tornaram precárias as condições das estradas em municípios agrícolas. No noroeste gaúcho, produtores rurais registraram vários atoleiros em pistas de terra, dificultando a passagem de veículos, justamente na época em que o transporte da safra de grãos começa a se intensificar. Leia também Transporte de cargas tem queda com safra menor, diz IBGE Portos do Arco Norte responderam por 31% das exportações de grãos em março Cargas do agro se destacam em movimento recorde no Porto de Santos Vídeos compartilhados em redes sociais e aplicativos de mensagens mostram caminhões e outros veículos sem condições de trafegar em estradas de municípios como Capão do Cipó e Tupanciretã. Mas um dos locais mais afetados é Jóia, a 432 quilômetros de Porto Alegre. Com 7,1 mil habitantes e uma área de 1.239 km², o município conta com mais de 3 mil quilômetros de estradas de terra em seu território. Com as chuvas, muitas estão intransitáveis, causando prejuízos a diversos produtores, em especial as cerca de 350 famílias que vivem em assentamentos da reforma agrária localizados na região. Chuvas deixam estradas rurais intransitáveis no RS Esse é o caso de Elizangela da Silva Leal Adler, que vive no assentamento Rondinha, a 36 quilômetros - por estrada de chão - da sede do município. Em sua propriedade, junto com o marido Délcio Adler, ela produz leite, soja, milho e feijão. No entanto, neste ano, decidiu encerrar a atividade leiteira. O motivo: os caminhões não conseguem pegar o produto devido às péssimas condições da estrada de acesso. “Não tem como escoar a produção. A gente acaba tendo que segurar o leite até quatro dias, que é quando enche a capacidade máxima do resfriador, que é de 700 litros. Se chove no quarto dia, o caminhão não vem, porque não tem condições de passar na estrada, e a produção é perdida”, explica a produtora, que entrega o produto para o laticínio Deale. Essa situação já vem ocorrendo há vários anos. Segundo Elizangela, em 2015, outra empresa de laticínios já havia abandonado o recebimento de leite dos produtores do assentamento Rondinha devido às péssimas condições das estradas. “Sempre foi ruim, mas as condições têm piorado muito”, afirma. Quando, semanas atrás, Elizangela recebeu à noite uma mensagem do leiteiro avisando que não teria como buscar a produção no dia seguinte porque estava chovendo, ela decidiu parar. Colocou à venda as 15 vacas leiteiras, o resfriador e a ordenhadeira. “Apesar da produção de leite ter seus problemas, sempre foi o nosso sustento. Estou deixando a atividade com dor no coração apenas por conta disso, pela falta de acesso. Nosso direito de ir e vir está sendo bloqueado”, comenta. Elizangela da Silva Leal Adler, com o marido, Délcio-Adler, e o filho, Gabriel Adler, em Jóia (RS) Arquivo pessoal A produtora de leite Simara Pereira, do assentamento Tarumã, enfrenta situação semelhante. “Toda vez que chove é a mesma história, quando não é um lugar que fica com atoleiro, acontece em outro”, reclama. Segundo Simara, os responsáveis pela coleta do leite chegaram a pedir aos moradores do assentamento para que entregassem o produtor na estrada geral que leva ao local, para não ter que trafegar nos acessos às propriedades, onde as condições são piores. “Não temos como sair com 400 litros de leite e levar até a estrada geral para o leiteiro ter acesso, é impossível”, comenta. “Estamos abandonados, não temos o básico, que é ter estrada para escoar a produção e ter acesso ao comércio, saúde e educação.” Problema crônico Para Tobias de Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jóia, a péssima situação das estradas é um problema crônico do município durante os períodos de chuva. “Tivemos dois anos de seca. Então, não se falava muito sobre as estradas, porque bastava só patrolar e tapar buraco, mas, quando começou o período de chuvas, vieram os atoleiros”, afirma. Para o dirigente, além de econômicos, os prejuízos aos moradores do campo também são sociais. “Não é só os caminhões que não conseguem transitar. Em algumas localidades, o transporte escolar não pode ser realizado e os alunos perdem aulas”, afirma. Recentemente, uma van escolar chegou a pegar fogo enquanto transportava 12 crianças para a Escola Estadual de Ensino Médio Joceli Corrêa, no interior do município. O veículo ficou preso em um atoleiro, e ao forçar o motor, o motorista percebeu a fumaça. Todos saíram sem ferimentos, mas a van ficou destruída. Caminão tombado em Jóia (RS) Arquivo pessoal Adílio Perin, produtor do assentamento Rondinha e diretor da escola, lembra que as rotas do transporte escolar tiveram que ser mudadas para que as vans evitassem atoleiros. Mas as dificuldades nas estradas locais seguem mesmo com tempo seco. Recentemente, lembra Perin, um caminhão carregado de soja caiu duas vezes em uma vale
Essa é mais uma manchete indexada e trazida até você pelo site Agromundo.NET