Produtor de gengibre orgânico aprende cultivo sustentável com abelhas

Capixaba detém título de maior produtividade do país e de maior rizoma colhido, com 10,4 kg Alexandre Lemke Belz, de 39 anos, nasceu e cresceu na roça na região serrana do Espírito Santo. Ele produzia verduras e criava galinha caipira, mas, em 2010, passou para o gengibre, seduzido pela demanda do produto no mercado internacional. Diz que aprendeu com as abelhas a observar as plantas e saber o que elas precisam para se desenvolver melhor. Hoje, é o maior produtor de gengibre orgânico do Estado, com 4 hectares distribuídos em Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. Leia também Exportação de gengibre garante renda a 1.500 famílias no Espírito Santo Gengibre: para que serve e como plantar a especiaria? Chá de gengibre fortalece imunidade e alivia cólica; veja 6 benefícios O agricultor detém também o título de maior produtividade do país, com um recorde de 180 toneladas por hectare, enquanto a média dos plantios convencionais é de 59 toneladas por hectare. Também ganhou com a mulher, Tatiana Kuster Belz, um concurso estadual no ano passado com a colheita do maior rizoma, de 10,4 kg. Além de “escutar” as demandas da planta, o produtor que só cursou o primeiro grau credita o resultado excepcional de sua lavoura ao uso do composto orgânico cama de frango como adubo, “sempre aplicado na dose necessária e na hora certa”. A lavoura é 100% irrigada por aspersão. “Desde criança, sempre optei pela sustentabilidade. Aprendi que, se você cuidar bem do solo, tem boa produtividade. Sem o uso de agrotóxicos, o produtor gasta mais, mas cuida da sua saúde, de quem trabalha na terra e de quem consome o que ele planta”, diz Alexandre, que tem certificação para exportar o produto orgânico para a Europa, especialmente Holanda, Alemanha e França, e para os Estados Unidos. Gengibres da propriedade de Belz são destaques em produtividade e tamanho Arquivo Pessoal/Alexandre Lemke Belz Com seu próprio CPF, ele exporta de 18 mil a 20 mil caixas por ano e recebe um adicional de 30% na comparação com o gengibre convencional. Desde novembro de 2023, o preço, diz, vem sendo mantido em R$ 115 a caixa de 13,6 kg, que ele envia com 500 gramas a mais por conta da desidratação nos 24 dias de transporte para a Europa. “Há mais de 11 anos estou fazendo seleção genética de mudas de gengibre visando crescimento precoce, mais resistência à seca e aos nematóides e maior controle de ervas daninhas”, conta o produtor que, junto com o Instituto de Pesquisa, Assistência Técnica e Assistência Rural (Incaper) e o IFES (Instituto Federal do Espírito Santo) está desenvolvendo sete variedades de gengibre para registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O Brasil não tem ainda nenhuma cultivar registrada. O plantio orgânico, diz Alexandre, demanda mais mão-de-obra que o convencional. Para cuidar da produção, ele conta com a ajuda da mulher e de seis parceiros familiares, incluindo sogros e cunhados, que cultivam mais 2,5 hectares. Vânia Traichel, de 29 anos, também optou pelo gengibre orgânico. Ela e o marido Arlindo Traichel cultivam 2 hectares em Domingos Martins, com uma produção de 8.000 caixas por hectare. Ele tinha uma fábrica de carrocerias, mas fechou o negócio para cuidar somente do gengibre. Gengibre orgânico exige mais cuidados no manejo mas compensa em produção Arquivo Pessoal/Vânia Traichel Até o ano passado, a raiz seguia para o exterior via exportador, com um preço de R$ 20 a mais pela caixa, na comparação com o convencional. “Agora, criamos nossa empresa, a Ginger Brasil, e vamos exportar direto a partir deste ano”, conta a produtora que está envolvida com o gengibre desde criança, já que os pais também cultivam a raiz. Ela iniciou a produção própria em 2013 e, em 2022, obteve a certificação orgânica, com auxílio do Incaper. Saiba-mais taboola Vânia diz que muitos produtores desistiram do orgânico, que exige um manejo mais cuidadoso, devido ao custo da certificação e à necessidade de muita documentação. “Com certeza, dá muita dor de cabeça, mas é compensador.”