Tragédia no RS deve pressionar preços do arroz em todo o Brasil

Ouça este conteúdoDe cada dez pratos de arroz consumido pelos brasileiros, sete vêm do Rio Grande do Sul. O país só escapou de um desabastecimento generalizado dessa commodity porque a maior parte da safra gaúcha já estava colhida, na semana passada, quando irrompeu o desastre das chuvas, enxurradas e inundações.Do arroz que estava nos campos gaúchos, entre 17% e 20% da produção, é provável que pouca coisa se salve quando as águas baixarem, visto que as plantações remanescentes ficam justamente na região central do estado, a mais atingida. A quebra na safra no maior estado produtor ocorre num momento em que a oferta mundial já é escassa, e as projeções são de que o cereal possa alcançar cotações recordes no mercado interno nos próximos meses, obrigando o país a se socorrer mais fortemente das importações.“Se as inundações tivessem ocorrido um mês atrás, certamente teríamos perda de 50% da safra nacional de arroz. E o produto se tornaria um prato de rico, porque não temos de onde comprar”, avalia Vlamir Brandalizze, consultor de commodities agrícolas em Curitiba (PR).Arroz também está caro em outros paísesAs perdas no Rio Grande do Sul coincidem com quebras de safra em outras regiões arrozeiras do planeta. A Índia, maior exportador mundial, também enfrentou inundações e proibiu os embarques para garantir a própria segurança alimentar. Os países vizinhos do Mercosul, bem como a China, também colheram menos devido ao excesso de chuvas. Brandalizze relata que esteve na semana passada com um produtor de arroz no Paraguai que informou já ter vendido 70% da produção. E que os outros 30% estava reservando para vender pelo melhor preço, que deve ser oferecido pelos europeus.Com necessidade de buscar arroz até na Ásia, como já ocorreu no ano passado, a previsão é de que o preço do cereal no mercado brasileiro atinja um novo recorde histórico. “No ano passado, pela primeira vez o arroz superou o valor da saca de soja. E esse ano deve ficar acima da soja. O consumidor vai pagar mais caro, entre R$ 30 e R$ 50 o pacote de 5 quilos”, prevê Brandalizze.Ainda assim, enfatiza, o arroz ainda é um alimento básico e de custo relativamente baixo. “Para uma família, você precisa de dois pacotes para o mês inteiro, com todo mundo comendo bem”, aponta. A boa notícia é que a safra de feijão está vindo cheia, e já houve recuo de até 40% no preço nas últimas semanas. A saída vai ser "por mais feijão no prato“, aconselha Brandalizze.Brasil consome quase 11 milhões de toneladas de arrozPara dar conta da demanda interna, o Brasil precisará importar entre 3 e 4 milhões de toneladas de arroz. Sem muita oferta dos parceiros do Mercosul, a saída será apelar para os Estados Unidos, Tailândia e Vietnã. Evandro Oliveira, analista da agência Safras e Mercado, lembra que o país já entrou neste ciclo com os menores estoques em 20 anos, menos de 500 mil toneladas, suficientes apenas para um mês de abastecimento.“O maior desafio da temporada vai ser na ponta compradora. Tem indústria que está com estoque zerado, principalmente os pequenos e médios da rede varejista. Quando falta arroz, a gente tem que ir à Ásia, se for preciso, ao preço que for”, observa Oliveira.A indústria, contudo, afasta qualquer risco de desabastecimento. “Apesar das perdas, a gente tem a segurança de dizer que o Brasil tem plena condição de garantir seu abastecimento. É provável que, diante das atuais circunstâncias, as exportações percam bastante espaço e haja um aumento nas importações. O volume de arroz importado de certa forma deve compensar essa redução de safra”, pontua Tiago Barata, diretor-executivo do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (SindArroz).Rio Grande do Sul produz 71% do arroz consumido no Brasil| Riela dos Anjos / Divulgação IrgaAinda não deu tempo de avaliar o tamanho do prejuízoO que mais se ouve dos especialistas de diferentes setores agropecuários é que haverá alguma pressão inflacionária, mas “ainda é cedo” para se ter uma real dimensão dos prejuízos, tanto no arroz como em outras cadeias produtivas em que o Rio Grande do Sul tem grande peso na economia brasileira, como soja, milho, leite, carne suína e aves.“O Brasil é um país extremamente grande, e não necessariamente a quebra de safra no Sul vai resultar num aumento imediato de preços. Às vezes leva um tempo, às vezes essa oferta que a gente deixa de ter no Sul vem de outros lugares no país. Ainda é cedo, não deu tempo de fazer as contas para saber o tamanho desse prejuízo”, avaliza André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV-Ibre.Braz não vê efeito drástico na inflação em curto prazo. “O primeiro impacto fica em Porto Alegre, e, na sequência, em função dos prejuízos que a safra possa apresentar no Rio Grande do Sul, a gente vai ter noção do efeito nacional”, acrescenta.Se o efeito em cascata para o restante da economia brasileira ainda aparenta estar represado, o mesmo não se pode dizer do impacto local e regional. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) aponta qu

Poderia 7, 2024 - 01:30
Tragédia no RS deve pressionar  preços do arroz em todo o Brasil
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