Investidor se retrai e startups do agro enfrentam estagnação

Pico da criação de empresas foi em 2017, mas no ano passado apenas uma foi fundada, mostra levantamento da Distrito As startups do agronegócio vivem um momento de retração no mercado, mesmo sendo parte de um setor que atingiu um PIB de R$ 192,2 bilhões só no primeiro trimestre de 2024. Entre 2000 e 2023, cerca de 800 agtechs foram criadas no Brasil, segundo relatório AgTech Report 2023 feito pela Distrito, hub de empreendedorismo. Os dados foram compilados pela gestora de venture capital KPTL e excluem companhias como aceleradoras, consultorias e agências de marketing. Saiba-mais taboola Depois de uma forte aceleração com 58 agtechs criadas em 2014, 2017 teve o pico, com 107 novas empresas. Porém, o número despencou para apenas uma em 2023. Outro levantamento, da Comunidade Online do PwC Agtech Innovation, mostra que foram criadas 118 startups em 2017 e nove em 2023. As razões para a forte queda nesses investimentos — que também atingiu startups de outros setores — foram a redução da liquidez no mercado e a alta dos juros nos Estados Unidos e na Europa, observa Gustavo Junqueira, diretor de operações da KPTL. Nos anos de alta, segundo ele, havia “uma grande liquidez no mercado de investimento, muito dinheiro circulando com taxas de juros baixas, e as startups foram os destinos que mais captaram”. A KPTL fez mais de 100 investimentos em startups nos últimos 20 anos, sendo 20% em agtechs. É o segmento mais representativo da carteira da gestora, com 11 empresas no portfólio atual. Diante da menor disponibilidade de capital, os investidores estão mais seletivos, segundo Gustavo Junqueira. Se antes uma boa ideia era suficiente para conseguir capital, agora não basta. É necessário ter uma visão mais clara do potencial do negócio, de seu diferencial competitivo e da viabilidade financeira. As startups que já operam também têm visto um investidor mais cauteloso. “Somente startups que conseguem fazer diferença conseguem capital”, diz. Apesar da persistência de um cenário de taxas de juros altas — tanto aqui quanto no exterior — , Renato Ramalho, CEO da KPTL, é otimista. Ele avalia que o momento é de oportunidade para agtechs. “Todos os principais aplicativos que você tem no seu celular nasceram em momentos de recessão de capital”, afirma. A Cowmed é uma das agtechs que teve investimento da KPTL. O CEO da agtech, Thiago Martins, afirma que os investidores estão mais criteriosos e tomando muito menos riscos, o que justifica o mercado retraído. A empresa, criada em 2010, monitora o comportamento e o ciclo reprodutivo de vacas e cresceu 50% no último ano, com receita de R$ 9 milhões. O avanço veio apesar do cenário negativo no setor de pecuária de leite. Para Martins, vender para produtor rural é totalmente diferente de qualquer outro segmento. “Ainda é um mercado no boca a boca, de venda presencial, olho no olho com o produtor. E muitas startups se basearam em vender apenas pela internet”, diz. Há casos de startups que se uniram para enfrentar o novo cenário. É o caso da Ponta Agro, startup resultante da fusão da ‘Gestão Agropecuária’ e da ‘Intergado’, no fim de 2021, e que atua em pecuária de corte. Segundo o CEO da empresa, Paulo Dias, a falta de investimento agravou a crise das agtechs, que já enfrentavam menor demanda por seus serviços — pela queda do preço do boi no mercado — e pela concorrência com empresas da China. A agtech, que aplica seleção genética para eficiência alimentar do gado, considera que a queda nos investimentos no setor no pós-pandemia é natural, mas já visa um cenário diferente. “Acreditamos em uma estabilização que vai beneficiar a pecuária. Apesar de o mercado não retomar o patamar de vendas de anos atrás, nós vemos uma retomada”. De acordo com o levantamento da Distrito, em 2023 o país tinha 769 startups do agro. O Brasil é o maior mercado de agtechs da América Latina, com 76,5% do total de empresas, seguido por Argentina e Colômbia, com 8,3% e 4,3% respectivamente.

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