EUA temem vantagem do etanol brasileiro na corrida pela “Opep dos biocombustíveis”

Ouça este conteúdo Lei de Redução da Inflação (IRA) do governo Biden, que gera créditos de até R$ 2,50 por litro produzido, também devem se abastecer do lado de cá do Atlântico.Essa dependência do insumo brasileiro não tem perspectivas de terminar em médio prazo, pode durar anos, apesar da fartura de etanol de milho nos EUA, maior produtor global. O gargalo americano está na pegada de carbono do combustível, que não atinge os padrões mínimos exigidos pelo Corsia – o programa para redução e compensação de emissões de CO2 provenientes dos voos internacionais.No ciclo de vida completo, o etanol brasileiro gera quase três vezes menos emissões, em grande parte devido à energia despendida no processo produtivo das usinas, que é totalmente renovável (biomassa de eucalipto, bagaço e palha de cana), enquanto nos EUA a produção depende de caldeiras a gás e carvão minerais. A distância de sustentabilidade aumenta com o etanol de segunda geração, que reaproveita os resíduos vegetais e tem pegada de carbono 30% menor quando comparado ao de primeira geração.Produção de SAF vai captar investimentos bilionáriosA situação aflige o setor de etanol dos EUA, que teme ficar atrás na corrida mundial para produção de SAF. O setor aéreo tem como meta chegar a 2050 com emissão líquida zero de carbono, mas já em 2027 aeronaves com destinos internacionais não poderão levantar voo de vários aeroportos se não tiverem misturas mínimas de SAF em seus tanques. Atualmente, o que se produz é suficiente apenas para um dia de consumo de uma companhia aérea norte-americana de grande porte. Descarbonizar a aviação civil vai exigir US$ 5 trilhões até 2050, ou US$ 178 bilhões por ano.Diminuir essa dependência do etanol brasileiro para produzir SAF faz parte do caminho para participar “do maior novo mercado jamais aberto para produtos agrícolas dos Estados Unidos”, segundo o Comitê de Promoção do Milho de Iowa.A American Carbon Alliance, que congrega os interesses de produtores rurais e usinas americanas, disse que as importações do etanol brasileiro equivalem a um “toque de despertar” na indústria, que não está em condições de concorrer com os padrões de sustentabilidade da matéria-prima sul-americana.Cana-de-açúcar brasileira tem pegada de carbono até três vezes menor do que a americana| Jonathan Campos / Arquivo Gazeta do PovoEUA temem que o Brasil siga "preenchendo o vazio"“A atual demanda por etanol de baixo carbono, tanto nacional quanto internacionalmente, está revolucionando a indústria agrícola. A questão é: conseguirão os EUA participar nestes novos mercados ou ficaremos para trás?” reagiu Tom Buis, CEO da American Carbon Alliance. “Se quisermos ver a agricultura americana sobreviver e prosperar, devemos garantir que o etanol de milho seja parte da solução quando se trata de combustível de aviação sustentável. Se não agirmos, o Brasil continuará a preencher o vazio.”  A provável diminuição da demanda de etanol no setor automotivo nos Estados Unidos, devido ao avanço dos carros elétricos, torna a produção de SAF mais crucial ainda. Por enquanto, a maneira mais engenhosa que os americanos encontraram de descarbonizar o etanol de milho foi sugerir a construção de “carbonodutos” cruzando plantações do Meio Oeste para enterrar o CO2 gerado pelas refinarias.Um projeto de 3.200 km é liderado pelo Summit Agricultural Group, mesmo fundo americano que controla a FS Bioenergia, pioneira na produção de etanol de milho no Centro-Oeste brasileiro. Mas em vários estados norte-americanos a iniciativa tem enfrentado a oposição de agricultores, políticos e ambientalistas, que consideram a rede de dutos cara, megalomaníaca e perigosa.Usinas brasileiras têm mercado "oceano azul"Quem mandou as primeiras cargas de etanol padrão Corsia para a fábrica Lanzajet, na Georgia, foi a brasileira Raízen (joint-venture entre Shell e Cosan). Trata-se, à primeira vista, de um mercado de “oceano azul” para o etanol verde e amarelo, mas há ressalvas e preocupações dos dois lados das Américas.Do lado de cá do Atlântico, a preocupação é de que o Brasil possa se dar por satisfeito apenas como fornecedor de matéria-prima nobre para produção de SAF, descuidando da oportunidade de desenvolver no próprio território uma nova cadeia agroindustrial, com forte demanda global e impacto na geração de renda e empregos.Para Gonçalo Pereira, professor do Instituto de Biologia da Unicamp, o cenário exige uma atuação estratégica do governo brasileiro. “Precisamos, via BNDES, ter programas para fazer que se produza SAF no Brasil. Por que os Estados Unidos não conseguem produzir SAF sem o nosso etanol”, enfatiza. Por outro lado, faz parte do jogo a Raízen e outras usinas exportar etanol e buscar capturar o máximo de valor. “Mas é papel de uma política de Estado bem feita gerar condições para que a gente, em vez de exportar, crie valor aqui dentro do país”, sublinha.Grandes usinas ainda não revelaram projetos de SAF à etanolNum primeiro momento, os grandes players da produção de etanol no país

EUA temem vantagem do etanol brasileiro na corrida pela “Opep dos biocombustíveis”
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