Novo combustível de aviação: Brasil pode fazer mais do que só exportar matéria-prima

Ouça este conteúdoO governo brasileiro comemorou neste mês a abertura do mercado de exportação de óleo de cozinha usado para os Estados Unidos. Os clientes são os fabricantes de biocombustíveis, os mesmos que têm vindo ao país buscar sebo bovino, cujas vendas cresceram 377% no primeiro quadrimestre do ano.Incentivadas por incentivos governamentais para descarbonização, as indústrias americanas buscam no exterior ingredientes mais baratos do que a soja para produzir combustíveis renováveis. Os europeus seguem a mesma receita, e estão rapidamente esgotando as disponibilidades de óleo de cozinha usado (UCO, da sigla em inglês).Essa exportação de óleo de cozinha e sebo já traz efeitos colaterais na indústria de limpeza. “Para o segmento de sabão é ruim, o efeito a curto prazo é um preço maior e uma pulverização desse produto. A gente costuma falar que o sebo agora é uma noiva cortejada por três pretendentes - saneantes, biodiesel e exportação – além do tradicional mercado de rações”, diz Marcio Brito, presidente da Associação Brasileira de Produtos de Higiene e Limpeza (Abisa).Outro produto brasileiro que têm se destacado nos embarques recentes para os EUA, mas com ticket mais alto, é o etanol de segunda geração. Trata-se do combustível obtido dos rejeitos da cana, com baixa pegada de carbono e certificado para produção do combustível renovável de aviação (SAF). Não existe etanol em outro lugar do mundo com índices tão próximos de zero carbono.Pesquisador defende estratégia de produção de SAF dentro do paísEsse diferencial faz do combustível brasileiro a principal matéria-prima da primeira usina de SAF à base de etanol, inaugurada no início deste ano na Georgia (EUA). O etanol americano ainda não tem nível de redução de emissões suficiente para fazer jus aos subsídios do governo para descarbonização, e pode levar anos até que consiga quebrar a barreira. A saída tem sido fazer um mix com o produto brasileiro.Apesar de internalizarem dólares, essas exportações de matérias-primas são vistas com ressalva por Gonçalo Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, um dos principais pesquisadores de biocombustíveis do país. Para ele, é estratégico que se crie uma nova cadeia industrial de SAF dentro do território nacional, devido ao potencial de geração de renda e emprego.“A gente precisa de uma política pública. Os EUA são um dos países mais protecionistas do mundo, só que eles têm outra estratégia de proteção.  Eles enfiam dinheiro até não poder mais para que façam o que eles querem. O Brasil, via BNDES, tem que desenvolver programas para que a gente produza SAF aqui”, defende.Todos aguardam aprovação do PL do Combustível LegalSomente o crédito, contudo, não seria suficiente. Empresários e analistas do setor de renováveis dizem que é fundamental a implementação do PL do Combustível Legal, aprovado na Câmara e sob análise do Senado. Daria segurança jurídica e demanda sustentada para o setor crescer, com mistura mandatória de etanol à gasolina de até 35%; adição de 1% de biometano ao gás natural a partir de 2026; mistura de até 25% biodiesel ao óleo diesel; e uso de SAF misturado ao querosene fóssil em até 10%, crescendo 1% ao ano a partir de 2027.Resta, também, o desafio de certificar a sustentabilidade das matérias-primas brasileiras: “Não basta ser verde, a gente precisa provar que nosso combustível é sustentável”, diz o presidente da refinaria Riograndense (antiga Ipiranga), Felipe Jorge, que está à frente da construção de uma biorrefinaria de quase US$ 1 bilhão para produzir SAF a partir de sebo bovino e óleos vegetais em Rio Grande (RS). A previsão é que a unidade, que tem como sócios Petrobras, Ultra e Braskem, comece a funcionar no final de 2026.Esmagamento de soja deve ganhar impulso no país com novas demandas, para biodiesel e para SAF| Michel Willian/País deve evitar armadilha de apenas exportar matéria-primaJorge aponta ainda a necessidade de financiamentos competitivos, porque a disputa por plantas de SAF é mundial e cada unidade exige centenas de milhões de dólares. “A financiabilidade desses projetos é muito relevante, temos que discutir muito bem e o governo e o BNDES têm olhado para isso”, observa.“Temos uma expertise, uma história no biocombustível que é muito rica, bonita e valiosa. O que precisamos fazer hoje é criar um ambiente no Brasil para que os investimentos gerem unidades aqui dentro. Se não, pode ocorrer de novo aquela situação que não toleramos mais, que é o Brasil ser um grande exportador de insumos, de matérias-primas para gerar riqueza, renda e emprego lá fora”, assinala Felipe Jorge.Somente a nova biorrefinaria de Rio Grande vai transformar em SAF um milhão de toneladas de óleos vegetais e gorduras por ano. A soja será o carro-chefe, mas a unidade deve usar sebo bovino e outros óleos, como de canola, uma opção atrativa para os agricultores cultivarem no inverno.Demanda por SAF pode impulsionar esmagamento de sojaA demanda por óleos vegetais deve aumentar tanto

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