Fazenda centenária salta da era do rádio para a dos aplicativos

Propriedade em Laguna Carapã (MS) instala torre de 4G com apoio de startup e acelera processos dentro da porteira Não faz muito tempo, a centenária Fazenda Campanário, localizada em Laguna Carapã, no sul de Mato Grosso do Sul, sofria com a falta de sinal de internet. Desde processos simples, como ligações de celulares dentro da fazenda, até os mais complexos, como a utilização de máquinas agrícolas com tecnologia embarcada, eram quase impossíveis. Leia mais Internet de qualidade chega a apenas 16% dos agricultores no país, diz pesquisa Conheça a fazenda inflável que permite produzir em qualquer lugar Mas a instalação de uma torre de internet que conecta os 37 mil hectares da propriedade, em maio deste ano, mudou o quadro. Da área da Campanário, 27 mil hectares são destinados à produção de soja, milho e cana-de-açúcar e à criação de cerca de 15 mil cabeças de gado. A torre foi instalada pela startup de conectividade Sol Internet Of People, em parceria com a Ciarama Máquinas, revendedora da John Deere. Leva sinal fornecido pela Claro e permitiu acelerar vários processos na fazenda. “Somente conectar nosso telefone e ser mais assertivo tem encurtado caminhos e evitado retrabalho dentro da fazenda. Antes tínhamos telefone fixo e rádio VHS de comunicação”, conta Claudio Kenmochi, supervisor de manutenção da propriedade. Segundo ele, antes, na era sem sinal, “as informações de falhas elétricas nas máquinas demoravam até uma semana para serem passadas do mecânico até nós”. Agora, o operador responsável pela máquina identifica o erro por um aplicativo e envia instantaneamente um relatório para que o mecânico responsável encontre as possíveis soluções. Esse aplicativo — uma tecnologia embarcada na máquina — depende da conectividade para funcionar. Antes, quando não havia sinal de internet, mesmo com a máquina em funcionamento, não era possível enviar as informações para os servidores da John Deere, lembra Kenmochi. Ele diz que ainda não é possível mensurar os ganhos após a instalação da torre, já que a mudança é recente, mas o executivo está confiante de que haverá benefícios, como redução de custos e ganho de produtividade. Saiba-mais taboola Devidamente conectada, o próximo passo na Campanário agora é iniciar a automação de processos. Em breve, afirma o supervisor, a fazenda irá testar um robô da Solinftec utilizado no combate a pragas. A instalação da torre na Campanário foi possível graças a um acordo entre os proprietários e a startup. A Sol arcou com a instalação do equipamento e, em troca, a fazenda consome as tecnologias fornecidas pela startup, tais como banda larga de internet e telemetria de máquinas. “São centenas de coisas que precisam se conectar dentro da fazenda, principalmente as máquinas. Depois, o produtor faz um upgrade dos pacotes contratados, com links de internet melhores que dão condições de serviço para o produtor”, diz Rodrigo Oliveira, CEO da Sol. Segundo ele, esse modelo de negócio possibilita também o acesso de pequenos e médios produtores ao sinal de internet na zona rural. “A gente baixa a barreira de entrada, implementa a torre e o produtor assume o compromisso de consumo de longo prazo”, afirma o executivo. Uma vez conectada, os processos dentro da fazenda resultam em economia de combustível, aumento da quantidade de máquinas em operação e menos problemas elétricos com manutenção preventiva. “Tudo isso é dinheiro no bolso do produtor”, complementa Oliveira. No Brasil, apenas 37% dos imóveis rurais têm cobertura 4G em toda área de uso agropecuário, segundo estudo da ConectarAGRO com dados de 2023. Ou seja, 63% das propriedades no país ainda vivem as dificuldades que a Campanário vivia até pouco tempo.