BRQ, de fertilizantes, ‘muda tudo’ após recuperação judicial e prevê quadruplicar receita
Antiga Brasil Química, que profissionalizou gestão e reorganizou estratégia comercial, projeta faturamentode R$ 800 milhões dentro de cinco anos Depois de passar, em 2017, por recuperação judicial, a Brasil Química, uma empresa de fertilizantes de controle familiar, decidiu mudar tudo: o principal executivo passou a ser um funcionário promovido, e não alguém da família, a importação de matéria-prima tornou-se prioridade, em lugar da produção de fertilizantes, a empresa começou a investir em bioinsumos e até mudou de nome. Agora, ela projeta crescer 40% neste ano, quando prevê faturar R$ 210 milhões, e quadruplicar sua receita nos próximos cinco anos, momento em que espera faturar R$ 800 milhões. Leia mais: Entregas de fertilizantes caíram 1,8% no primeiro semestre Entenda as diferenças entre biofertilizantes e fertilizantes orgânicos Nos últimos cinco anos, a BRQ Brasilquímica, o novo nome da companhia, cresceu, em média 30% ao ano, fazendo um caminho de recuperação mais “controlado”, segundo o CEO, Renan Cardoso. “Fizemos coisas que muita empresa de insumos está vivenciando agora, como investir demais, sem ter crédito, em vez de controlar o caixa. Foi assim que nós entramos em recuperação judicial. Por isso, diminuímos a fabricação de alguns nutrientes, ganhando com aumento de margens e desenvolvendo mais parceiros internacionais, na China e nos Estados Unidos”, diz. A reorganização dos negócios começou em 2018. Como parte do plano de reestruturação, Marcelo Fernandes, sócio da BRQ e filho do fundador, contratou uma consultoria, pôs no comando da companhia um profissional de fora da família, enxugou custos e preferiu apostar na importação, e não mais na produção, de matérias-primas básicas (NPK). Desde então, o plano de crescimento caminha de forma “escalonada”, diz o empresário. A empresa quer encerrar o ano com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) 14% maior que o de 2023, quando o Ebitda já cresceu 10%, segundo ele, que não informa o montante. A alavancagem da companhia melhorou e, no momento, fica entre 1,5 vezes a 2 vezes o valor do Ebitda. Demissões e contratações Fundada em 1995 e com sede em Batatais (SP), a empresa teve que demitir boa parte de seus funcionários ao longo do processo de recuperação judicial. Com o enxugamento, seu quadro de funcionários, que era de 130 pessoas, caiu para apenas 52 profissionais. Mas o contingente ganhou corpo desde então, e, hoje, 160 pessoas trabalham na companhia. Sete anos depois da recuperação judicial, a Brasilquímica, rebatizada de BRQ, já pensa em novos investimentos. “Fizemos a lição de casa em 2018, coisa que muita empresa de insumos está vivenciando agora. Investimos demais nas nossas fábricas, apoiados em uma estrutura financeira que não era própria. Depois, quando procuramos grandes bancos, ficou difícil renegociar dívidas, até que encaramos a recuperação judicial”, conta Fernandes, que é presidente do conselho de administração da empresa. Ele destaca que a relação com fornecedores internacionais, como China, Estados Unidos, Chile e Bolívia, é uma das principais “viradas de chave” do negócio, já que permite à companhia adquirir matérias-primas mais baratas e de qualidade. Atualmente a empresa importa mais de 70% de seus insumos para formular no Brasil adubos especiais voltados a diferentes culturas, como cana-de-açúcar e café. Saiba-mais taboola “Melhoramos a gestão de resultados e entendemos que não devemos concorrer com multinacionais. Enquanto isso, fazemos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, nos quais o maior desafio é ainda o tempo de registro”, diz Fernandes. Só no primeiro semestre, a BRQ lançou sete formulações novas. Redução da inadimplência Nos últimos cinco anos, a empresa, que tem como principais concorrentes nomes da indústria nacional, como Vittia e Multiveg, também conseguiu reduzir seu índice de inadimplência , que hoje é de menos de 1%. “O produtor não aceita mais ser colocado na parede e nem embarca nas vendas casadas, que, no fim, prejudicam as companhias que têm de baixar o preço”, avalia o empresário. Rubens Cardoso e Marcelo Fernandes, da BRQ Brasilquímica Divulgação Com fluxo de caixa organizado, Fernandes diz que não há fusão ou aquisição no horizonte no momento, mas que a companhia avaliará eventuais ofertas, desde que com “cautela”, disse ao Valor. Ele descarta que o segmento esteja em crise, apesar de um atraso na comercialização e da possibilidade de falta de insumos no país no momento de aplicação das safras de verão. Segundo o empresário, a BRQ reforçou os estoques para poder duplicar suas vendas no segundo semestre deste ano. A estratégia foi concentrar as importações de matérias-primas chinesas em maio, mês em que os preços recuaram na Ásia. No momento, a empresa tem estoques avaliados em R$ 13 milhões.
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