“Governo Lula não tem competência para as questões ambientais”
04/09/2024 “Governo Lula não tem competência para as questões ambientais” Candido Bracher - Foto Benedikt von Loebell- World Economic Forum Na avaliação do ex-presidente do Itaú Unibanco, governo até tem demonstrado boa vontade para promover iniciativas verdes, mas falta capacidade de gestão. Entrevista com Candido Bracher Membro do conselho de administração do Itaú Unibanco Ex-presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher tem se aprofundado nas discussões sobre meio ambiente desde que deixou o comando da instituição financeira, em 2021. Dono de fazendas no Pantanal e casado com a ambientalista Teresa Bracher, o executivo, além de estudar o assunto, tem se envolvido na promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia, financiando iniciativas e participando de projetos que incentivam a tecnologia e a inovação na região. Bracher afirma que o aquecimento global é um dos problemas mais “opressivos” da atualidade e que líderes globais não têm trabalhado para contornar a crise climática. Para ele, a principal medida para lidar com o problema é implementar o mercado de crédito de carbono. “As pessoas fingem que não veem. Os países desenvolvidos fingem que não veem. China, EUA, Rússia e empresas de petróleo continuam ocupando a atmosfera com seu gás carbônico sem pagar nada. Esses países se recusam a entrar na discussão. Como são fortes e poderosos, fica por isso mesmo. É revoltante”, diz ele, que investe, por meio de fundos, em empresas que se dedicam à restauração e preservação de florestas e que, portanto, comercializam créditos. Em relação à atuação do governo Lula para promover a preservação ambiental e a bioeconomia, Bracher afirma que há boa vontade, mas falta capacidade. “Estou achando que o governo não tem competência. (...) Seria uma injustiça dizer que (o governo) está parado. Vejo pessoas se esforçando muitíssimo. O que não vejo é capacidade de gestão.” A seguir, trechos da entrevista. O sr. afirmou recentemente que não dá para as pessoas permanecerem passivas diante da urgência do aquecimento global. O que o sr. tem feito? Fui executivo do setor financeiro por 40 anos e, aos 62 anos, quando atingi a idade limite para ser CEO do Itaú, resolvi que ia passar de executivo para reflexivo. Minha ideia é dedicar o meu tempo para refletir sobre os problemas que acho mais opressivos, e, para mim, o que emerge como mais sério globalmente é o aquecimento. Isso também está muito ligado ao fato de a minha mulher (a ambientalista Teresa Bracher) já estar envolvida na preservação do Pantanal. Mas agora posso fazer isso mais na prática. Então, o que eu fiz basicamente foi estudar a questão, refletir sobre ela e me indignar. Dessa indignação, procurar estruturar alguma forma de ação, mas sempre em um papel de conselheiro, de motivar iniciativas. Em quais iniciativas tem se envolvido? As minhas iniciativas são escrever sobre o assunto, estar envolvido na CT&I da Amazônia (agenda de promoção de Ciência, Tecnologia & Inovação na região), na Concertação pela Amazônia (rede que busca conservar e promover o desenvolvimento sustentável do território). Mas mão na massa mesmo é no Pantanal e, mesmo aí, é indireto, porque é a Teresa quem executa. Também apoio iniciativas financeiramente. A partir de seus estudos, qual avaliação faz da situação ambiental global? O aquecimento global decorre de um crime continuado. São pessoas e países se apropriando de um bem que é de todos. Esse bem é a capacidade da atmosfera de absorver carbono. Essa capacidade é ocupada por alguns países ou pessoas. Você tem países com grandes emissões que ocuparam esse espaço a ponto de provocar o aquecimento que prejudica o mundo. Precisamos reduzir as emissões a zero até 2050 para evitar que a Terra se aqueça mais do que 1,5ºC. Estamos longe de conseguir isso. Uma receita é: se as pessoas estão usando algo que não é delas, põe um preço. É a forma de desestimular isso. Vamos ver quanto é esse preço, e quem emite paga. Quem absorve recebe. Grandes teóricos escreveram propostas muito boas nesse sentido. As pessoas fingem que não veem. Os países desenvolvidos fingem que não veem. China, EUA, Rússia e empresas de petróleo continuam ocupando a atmosfera com seu gás carbônico sem pagar nada. Tem uma discussão também se paga ou não pelo (emitido no) passado. Mas faz 20 anos que a gente sabe que isso existe e esses países se recusam a entrar na discussão. Como são fortes e poderosos, fica por isso mesmo. É revoltante. Você pode ver isso como os países mais ricos, mas pode ver como pessoas também. Nós, as pessoas mais ricas, emitimos mais do que os consumidores mais pobres. Cobrar pelo carbono resolveria esse problema. Quem tem de tomar essa decisão são os responsáveis pelos países. São o Legislativo e o Executivo de cada país que têm de impor esse custo no carbono. E da situação brasileira, qual sua avaliação? Nós, brasileiros, temos uma situação onde, como país, não somos dos maiores emissores. Se resolvermos o problema de desmatamento, nos tornamos um emis
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