Suinocultura Industrial em Foco: Impacto da seleção genética e nutrição de suínos quando expostos a desafios ambientais
Quando comparados com outras espécies de produção, os suínos são particularmente sensíveis ao estresse por calor uma vez que possuem glândulas sudoríparas afuncionais e uma espessa camada de tecido adiposo subcutâneo. Associado a isso, o foco a longo prazo dos programas de melhoramento de suínos tem sido para alta produtividade (Guy et al., 2012). No entanto, o aumento na seleção genética para características de produção (desempenho de crescimento, deposição de massa magra e capacidade reprodutiva) resultou em suínos com menor capacidade para enfrentar os desafios. Nesse sentido, moléculas antimicrobianas foram amplamente utilizadas para atenuar o impacto da estimulação contínua do sistema imunológico causada por questões ambientais e sanitárias. No entanto, a resistência antimicrobiana aumentou a demanda por estratégias não antibióticas (Chalvon-Demersay et al., 2021). Devido aos seus efeitos promotores de saúde (controle da inflamação, melhora do desenvolvimento intestinal, modulação da microbiota intestinal etc.; Liu et al., 2018), estratégias nutricionais, incluindo aditivos alimentares, podem ajudar a atenuar os impactos negativos da medicalização em suínos expostos a desafios ambientais e sanitários. Efeito da exposição do desafio sanitário e estresse por calor no desempenho de suínos A redução no consumo de ração (anorexia) é uma resposta comum de suínos alojados em ambiente sanitariamente desafiador. Mesmo a nível subclínico, cujas consequências não são facilmente mensuradas, Kyriazakis et al. (2008) observaram redução de 75-80% no consumo alimentar voluntário. Contudo, em uma condição de desafio mais intenso (tempo e/ou dose do patógeno), no qual sinais clínicos são observados, o consumo alimentar pode ser próximo de zero (Figura 1). Suínos desafiados sanitariamente (seja por práticas comuns ou por manejo inadequado) também apresentam alteração no padrão comportamental. Em estudo com leitões recém-desmamados, Pastorelli et al. (2012) observaram que suínos alojados em más condições de higiene destinaram maior parte do tempo à exploração do ambiente do que ao consumo de alimentos. Esse comportamento pôde explicar a redução de 10% no consumo de ração (0.430 vs. 0.471 kg/dia) dos suínos desafiados quando comprado ao grupo controle (Pastorelli et al., 2012). Em acréscimo, para suínos em condição de desafio na fase inicial de crescimento, foi observado maior disputa pelo comedouro (+25%) e maior incidência de comportamentos estereotipados, com danos na cauda e feridas na orelha (van der Meer et al., 2017). Figura 1. Representação esquemática da redução no consumo de ração dependente do tempo de exposição ao patógeno. Adaptado de Kyriazakis et al. (1998). Fatores como esses podem comprometer a lucratividade dos sistemas de produção. Em estudo com suínos em crescimento alojados em ambiente de baixo, moderado e alto desafio sanitário, Cornelison et al. (2018) observaram que o rendimento de carcaça foi maior para os suínos alojados em moderado desafio em relação ao alto (74.1 vs. 73.6%). Além disso, as perdas econômicas em ambiente moderado, quando comparado com baixo desafio, variaram entre $8,49 e $10,44 por suíno comercializado, enquanto que as perdas no alto desafio em relação ao de baixo, oscilaram entre $20,44 a $26,10. Em relação ao desafio causado por estresse por calor, Campos et al. (2014) observaram que suínos em crescimento, quando expostos à alta temperatura (30 ºC) e condição termoneutra (24ºC), apresentaram, respectivamente, menor consumo de ração (1500 e 2003 g/dia) e ganho de peso (449 e 684 g/dia). Dessa maneira, houve piora em 14% na conversão alimentar (CA) dos suínos mantidos à 30 ºC. Renaudeau et al. (2011) demonstraram que cada grau Celsius de aumento na temperatura ambiente entre 25 e 30°C reduz em 45 e 25 g/dia o consumo de alimento e ganho de peso, respectivamente, em suínos de 50 kg de peso vivo. Além disso, estudos têm demostrado que, além de mudanças de apetite, o estado metabólico e fisiológico dos animais também é alterado em situações de estresse por calor. Por exemplo, suínos expostos a altas temperaturas, possuem alterações no metabolismo de nutrientes (Morales et al., 2016), menores níveis circulantes de hormônios anabólicos e, consequentemente, menor potencial de deposição de proteína e gordura na carcaça (Rhoads et al., 2013). Efeitos moduladores da seleção genética e nutrição de suínos expostos a desafios ambientais Genótipos modernos selecionados para melhor deposição de tecido magro podem não ser capazes de alocar recursos suficientes para processos fundamentais (como os de crescimento e produção) quando enfrentam desafios ambientais e de saúde. Por exemplo, suínos selecionados para maior deposição de massa magra produzem maior taxa de calor metabólico e, portanto, são mais susceptíveis ao calor (Fraga et al., 2019). Ainda, Renaudeau et al. (2007) demonstraram que, quando expostos a temperatura ambiente de 31 °C, suínos nativos da raça Crioula apresentaram me
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