Tereos já perdeu ao menos R$ 100 milhões com incêndios
Companhia francesa teve mais de 30 mil hectares queimados, tanto de lavouras próprias como de fornecedores A companhia francesa Tereos já perdeu ao menos R$ 100 milhões com os incêndios nos canaviais que abastecem suas usinas no Brasil neste ano, afirmou Pierre Santoul, presidente da companhia francesa no Brasil, em coletiva com jornalistas nesta segunda-feira (16/9). Leia mais Ferramenta mostra mapa de queimadas e incêndios no Brasil Chuva deve durar pouco e regiões do Brasil podem ter mais 20 dias de seca A companhia já teve mais de 30 mil hectares queimados, tanto de lavouras próprias como de fornecedores, sendo que metade foi de áreas já colhidas e metade com cana ainda a colher. Além disso, 2 mil hectares de vegetação nativa consideradas como áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal foram queimadas. O volume de cana afetado nesta safra (2024/25) foi de 1,7 milhão de toneladas. Além disso, os incêndios devem prejudicar especialmente a produção de açúcar a partir da primeira quinzena de setembro. Apesar disso, Santoul ainda espera que a moagem de cana da safra atual seja maior do que na safra passada, superando 21 milhões de toneladas. O motivo, segundo ele, foram as ótimas condições climáticas registradas no ano passado, na época do desenvolvimento da cana que está sendo colhida neste ano. “O canavial chegou na safra deste ano sem estresse hídrico. Apesar da seca histórica [neste ano], a Tereos vai moer mais cana do que no ano passado, e em ATR também [vai produzir mais]. A resistência do canavial está excepcional pelo pouco estresse hídrico do ano passado e por tudo que fizemos de agricultura regenerativa para ter um canavial com boa saúde”, afirmou. Haverá, por outro lado, algumas perdas de eficiência. Embora a recomendação técnica seja de processar a cana que passou pelo fogo em até 48 horas, as indústrias não conseguem processar toda a cana queimada de uma vez só por causa do alto volume atingido e pelo excesso de fibras. “Ainda estamos processando cana que pegou fogo em 23 de agosto”, disse. Initial plugin text Além disso, a Tereos não vai conseguir atingir sua meta de direcionar 60% da cana para a produção de açúcar nesta safra. Os incêndios “degradaram a qualidade do canavial”, disse Santoul. As usinas do Centro-Sul já vinham com dificuldade nesta safra de produzir mais açúcar a partir da cana por causa de uma menor qualidade da cana. O executivo disse não ser possível ainda prever qual será o mix açucareiro desta temporada. No ciclo passado, a Tereos direcionou 67% de sua cana para a produção da commodity. A maior preocupação, porém, é com a próxima safra. “As soqueiras estão com estresse hídrico. Se não tivermos boas condições meteorológicas a partir de agora até abril, com certeza vai ter uma redução ainda mais expressiva de safra”, afirmou Santoul. Ele disse que, se nesta safra o Centro-Sul deve perder 10% da moagem em relação à safra passada, é possível que haja uma nova quebra de 10% na próxima temporada se não houver boas chuvas nos próximos meses. Compromisso Os incêndios devem provocar ainda um impacto negativo na estratégia de descarbonização da Tereos. Em março, a companhia francesa apresentou à organização Science-Based Targets iniciative (SBTi) seu compromisso de alcançar a neutralidade de emissões até 2050, com a meta intermediária de cortar as emissões dos escopos 1 e 2 (relacionada à atividade industrial e consumo energético) em 50% até a safra 2032/33 e em 36% as emissões do escopo 3. Embora os incêndios provoquem uma grande liberação de gases de efeito estufa para a atmosfera, Santoul avalia que deve prevalecer o entendimento de que a rebrota da cana deve absorver os gases liberados, equilibrando o balanço de emissões. Porém, haverá outras emissões adicionais a serem consideradas. “Dos 15 mil hectares de soqueira queimados, grande parte já tinha recebido tratamentos, e vamos ter que retratar. Então terá dupla contagem na emissão de carbono”, disse. Além disso, a Tereos ainda avaliará quais áreas precisarão ser replantadas.
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