Clima bom e margem negativa: A reta final da safra de grãos para os agricultores dos EUA
Tempo favorável assegura colheita farta de milho e soja no principal concorrente do Brasil, mas queda de preços multiplica os prejuízos de produtores americanos Das 7h da manhã até o pôr-do-sol, os agricultores americanos estão trabalhando na colheita de milho, que está no fim. Cada minuto importa. A chuva caiu nas lavouras na hora certa, e agora deu lugar ao clima seco, perfeito para a retirada do grão dos campos do Meio-Oeste. Mas, apesar do sucesso na safra, os produtores rurais dos Estados Unidos caminham para fechar a temporada no vermelho, com custos altos e preços em queda. Leia também “Minha margem está negativa. Estou perdendo dinheiro em cada bushel que colho e tenho gastos altos com fertilizantes”, queixou-se à Globo Rural, sem descer da colheitadeira, o agricultor Jeff Fisher, que produz grãos no pequeno vilarejo de Philo, na cidade de Urbana, em Illinois. Ele conta que a área foi “abençoada” com muita chuva na primavera nesta safra, após três anos consecutivos de seca, e conseguiu rendimentos de 250 bushels por acre (cada bushel de soja equivale a pouco mais de 27 quilos). No ciclo anterior, mesmo com a estiagem, Fisher ainda produziu cerca de 230 bushels por acre, desempenho que considerou muito positivo — e que foi resultado do uso de sementes mais resistentes à seca. Fisher acredita que, atualmente, o principal desafio dos agricultores americanos é lidar com a queda nos preços das commodities e com a atual situação econômica para fechar as contas. E ele se diz particularmente intrigado com o aparente desencontro entre oferta e demanda. “Nunca a Terra teve tantos seres humanos quanto hoje, mas a demanda [por grãos] parece estar baixa, mesmo com a queda dos preços das commodities”, disse. “Eu gostaria que alguém me explicasse a razão disso”. Saiba-mais taboola Segundo ano no vermelho Em outras lavouras americanas que a Globo Rural visitou nos últimos dias, depoimentos como o de Fisher se repetiram. Isso porque, na área central de Illinois, a safra deste ano deixará um saldo negativo de US$ 161 por acre para os produtores de milho, conforme projeção do Departamento de Economia Agrícola da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. No ciclo anterior, também houve prejuízo, de US$ 164 por acre, embora o preço médio tenha sido US$ 0,50 mais alto. A análise para 2024 considera o preço médio do milho em US$ 4 por bushel e rendimento de 240 bushels por acre na região. Nesse quadro, a receita bruta seria de US$ 970 por acre, mas a despesa chegaria a US$ 1,13 mil por acre, puxada pelo custo de arrendamento da terra e pelos gastos com insumos. Para a soja, o departamento estima um saldo negativo de US$ 53 por acre para os agricultores. No ano passado, as perdas foram de US$ 22 por acre. Mark Schleusener, da área de estatísticas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) em Illinois, afirmou à Globo Rural que “os preços baixos da safra estão prejudicando os produtores” de todo o país. O aumento da oferta agrava o quadro. O USDA estima que a produção americana de milho na safra 2024/25 será de 386,2 milhões de toneladas, uma ligeira queda, de 0,89%, em comparação com o ciclo anterior. Para a soja, o departamento prevê 124,7 milhões de toneladas, o que representará um crescimento de 10,1%. O ponto positivo, na visão de Schleusener, é que a conjuntura favorece os pecuaristas, já que o milho é um dos principais insumos da alimentação animal. Agricultor Vic Riddle trabalha na colheita de uma fazenda de 54 anos localizada na vila de Wapella, na cidade de Clinton Nayara Figueiredo Em plena colheita de uma fazenda de 54 anos na vila de Wapella, na cidade de Clinton, o agricultor Vic Riddle conta que muito da demanda americana por milho é para a ração do gado e a fabricação de etanol. Mas, com o atual nível de produção e preço, o consumo precisa aumentar. “Estou um pouco preocupado com todos esses novos carros elétricos. Eles não queimam etanol”, disse. “Estou meio preocupado com o futuro da demanda por etanol, precisamos encontrar usos para o milho”. A busca por estratégias para lidar com a queda dos preços dos grãos é particularmente importante porque, no momento, não há indícios de que a situação vá mudar no curto prazo. “Temos uma safra grande aqui nos Estados Unidos e no Brasil. A combinação dessas duas coisas nos diz que não há nenhum evento que vá nos trazer preços mais altos em um futuro próximo”, afirmou Joe Janzen, economista do departamento agrícola da Universidade de Illinois. A projeção da universidade para 2025 continua a indicar prejuízo para os agricultores da região central do Estado, mesmo que em proporção menor que o deste ano. O saldo tende a ficar negativo em US$ 73 por acre no caso do milho e US$ 50 por acre no da soja. Ainda assim, os agricultores ouvidos pela Globo Rural dizem não ter planos de reduzir área de cultivo da próxima temporada. Eles pretendem seguir contendo despesas e sem fazer investimentos — ou seja, nada de novas máquinas agrícolas ou mel
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