O que é doença da vaca louca? Entenda os sintomas e riscos para humanos
Pesquisadora do Instituto Biológico fala sobre as formas de transmissão e de apresentação da enfermidade A internação de um homem de 78 anos em Caratinga, em Minas Gerais, com sintomas semelhantes ao mal da vaca louca, doença associada ao consumo de carne e subprodutos de bovinos contaminados com Encefalite Espongiforme Bovina (EEB), gerou preocupações no estado. Nesta terça (12), apesar da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) ter descartado um novo foco da doença após exames no paciente, uma série de dúvidas sobre o mal da vaca louca ganhou espaço surgiu na internet: o que é a doença? Quais as características e sintomas? Humanos podem ser contaminados? Initial plugin text A médica veterinária Claudia Del Fava, pesquisadora científica do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, responde a estas e outras perguntas: O que é o mal da vaca louca? A encefalopatia espongiforme bovina (BSE), popularmente conhecida como mal da vaca louca, é uma doença transmissível do sistema nervoso de gado adulto (Bos taurus e Bos indicus), causada pelo acúmulo de uma proteína anormal chamada “príon” no tecido nervoso. Foi descoberta no Reino Unido, em 1986, e rapidamente detectada em outros países, detalha Claudia. A doença pode ser transmitida para os seres humanos? A BSE é considerada zoonose devido à sua suposta ligação com o surgimento da variante da doença de Creutzfeldt-Jakob. A doença de vCJD em humanos é extremamente rara, mas é uma condição grave e muitas vezes fatal, segundo a especialista. Os sintomas incluem perda de memória, mudanças de comportamento, problemas motores e táteis. A BSE é sempre perigosa? Existem duas formas de apresentação, relata Claudia: • Atípica (BSE tipos H e L) -- ocorre espontaneamente em todas as populações de bovinos e não depende da ingestão de alimentos contaminados com príons. Até o momento não há evidências de que a BSE atípica seja transmissível por alimentos contaminados. No entanto, protocolos para gerenciar o risco de exposição de príon atípico na cadeia alimentar continuam a ser recomendados como medida de precaução. • BSE Clássica (BSE tipo C) -- sua transmissão ocorre pela alimentação de bovinos com farinha de carne e ossos de bovino contaminada com príon da BSE e/ou ração animal contendo farinha de carne e ossos contaminada com príon da BSE. Embora a BSE clássica tenha sido identificada como uma ameaça significativa na década de 1990, sua ocorrência diminuiu acentuadamente nos últimos anos, como resultado da implementação bem-sucedida de medidas de controle eficazes, e agora é estimada como extremamente baixa. Essas medidas de controle foram impostas pela Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), que exigiu dos países-membros que seus sistemas de Defesa Sanitária Animal implementassem e executassem programas sanitários de combate à doença, o que resultou no declínio da BSE tipo C em todo o mundo. Até o momento, a incidência de ambas as formas de BSE é insignificante e estimada em quase zero casos por milhão de bovinos. Saiba-mais taboola Como ocorre a transmissão? Com relação à transmissão e propagação da BSE, estudos apontam que o gado geralmente é infectado por meio da ingestão de alimentos contaminados com príons durante o primeiro ano de vida. O risco de contaminação ocorre se a ração contiver produtos derivados de ruminantes, como farinha de carne e ossos, que é o produto proteico obtido pela transformação de certas partes de carcaças de animais, inclusive de pequenos ruminantes e bovinos de criação, que não são utilizados para consumo humano, diz a veterinária. Como o príon infeccioso é resistente a procedimentos comerciais de inativação, como calor, não pode ser destruído no processo de aproveitamento de resíduos de tecidos. A incidência de BSE foi muito maior em bovinos leiteiros do que bovinos de corte, porque geralmente os rebanhos leiteiros são alimentados com rações concentradas que, antes da introdução de controles mais rigorosos, continham farinha de carne e ossos. Não há evidências de transmissão direta entre animais (transmissão horizontal) e poucos dados apontam que a BSE seja transmitida de mãe para filho (transmissão vertical).
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