Restrições no exterior afetam produção e inovação no campo

Exemplos do passado e do presente mostram que a abertura comercial acelera o desenvolvimento e a adoção de novas tecnologias A conclusão das negociações do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, anunciada na sexta-feira (6/12), abre caminho para a integração entre os dois maiores blocos econômicos do mundo. A efetivação da parceria ainda depende de revisão jurídica dos termos do acerto e de aprovação nos respectivos parlamentos, mas, ainda assim, o encerramento das tratativas é um marco histórico para o comércio internacional. Leia também Centro de inovação no Brasil deixa John Deere mais ‘tropical’ Empresas do agro investem pouco em inovação aberta, aponta pesquisa As celebrações pelo término das negociações deixaram em segundo plano um aspecto menos festivo da relação entre os dois blocos. Dois dias antes do anúncio, em Montevidéu, da conclusão das negociações com o Mercosul, a UE confirmou a decisão de adiar por um ano a entrada em vigor de sua Lei Antidesmatamento, um conjunto de regras que tem preocupado uma fatia considerável do agronegócio brasileiro — e que, na visão de muitos exportadores, contradiz o espírito de integração que se viu no anúncio na capital uruguaia: em vez de abrir portas, argumentam os exportadores brasileiros, o texto impõe barreiras que pareciam superadas. Em linhas gerais, a Lei Antidesmatamento da UE prevê, entre outras regras, o veto à importação de produtos agropecuários provenientes de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. Do lado brasileiro, autoridades e representantes de segmentos do agronegócio alertam para possíveis impactos sobre a economia, o comércio e, também, a inovação. Existe uma correlação direta entre inovação e prosperidade – e a China, hoje o grande motor da economia global, é testemunha disso. Em 1500, os chineses tinham a economia mais forte do mundo, mas, no século XIX, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão já haviam superado a antiga potência na produção de bens e serviços. Para entender essa transição, Stephen Haber, Edward Lazear e Amit Seru, professores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, usaram “big data” (conjunto de técnicas que permitem analisar um grande volume de dados e obter resultados a partir dessa varredura) para analisar o desempenho da economia e a geração de conhecimento, por meio dos registros de patentes, em longos períodos. Nos estudos, de 2019, os pesquisadores identificaram que, quando a economia chinesa era mais avançada do que a do Ocidente, o país vendia itens como como especiarias, seda e chá em troca de prata. Na época, o Ocidente tinha pouco a oferecer para suprir as necessidades dos chineses precisavam, contou Haber. O cenário mudou por volta de 1800, quando a inovação — com o desenvolvimento da química moderna, o uso da energia a vapor nos transportes e o surgimento das peças intercambiáveis, mas também inovações militares, jurídicas e financeiras — fez a diferença. Hoje, a postura da China é outra: não é casual que o país, hoje um dos mais inovadores do mundo, tenha voltado a ser uma potência econômica. “Do ponto de vista da Organização Mundial do Comércio, a lei [antidesmatamento da UE] apresenta características que violariam acordos internacionais, mesmo que venha embasada por justificativas ambientais”, afirma o professor Umberto Celli Junior, especialista em Direito Internacional da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), segundo registro da Agência de Notícias da USP. “É importante lembrar que a lei vai além de medidas de proteção ao meio ambiente e pode ser interpretada como uma barreira comercial disfarçada”. Também os chineses impõem restrições ao comércio agrícola que desagradam ao agro nacional. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Paulo Bertolini, diz que uma das maiores preocupações do setor é a chamada reciprocidade na velocidade de aprovação de biotecnologias entre Brasil e China. Segundo ele, que fez o comentário em reunião recente com o ministro da Agricultura Carlos Fávaro, o Brasil é um exemplo na análise e aprovação de tecnologias. E, na China e em outros países, o trabalho leva até oito anos. Essa questão preocupa não apenas produtores brasileiros, mas também grandes multinacionais do setor que desenvolvem a partir do Brasil novas tecnologias. No caso de defensivos, por exemplo, o trabalho de pesquisa e desenvolvimento para produzir uma nova tecnologia pode demorar de oito a dez anos. Com mais oito anos de espera para aprovação, um novo produto por levar quase 20 anos para chegar ao mercado chinês. No início de novembro, representantes do Congresso Nacional do Povo da China visitaram a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. O encontro teve como objetivo principal a apresentação de pesquisas e da infraestrutura do órgão, especialmente na área de conservação de recursos genéticos e biotecnologia. A visita fez parte de esforços para fortalecer o intercâmbio na inovação,

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