Uma viagem ao pedaço da Amazônia onde se fala japonês

Uma viagem ao pedaço da Amazônia onde se fala japonêsCrédito, Felix Lima/BBCLegenda da foto, Hajime Yamada é última pessoa viva presente na primeira leva de japoneses a aportar em Tomé-Açu, em 1929.Article informationAuthor, João Fellet e Felix LimaRole, Enviados da BBC News Brasil a Tomé-Açu (PA)16 janeiro 2024Atualizado 19 janeiro 2024"Olha a natureza. Aprende com a natureza."As frases, ditas pelo engenheiro florestal japonês Noboru Sakaguchi, apontavam a saída para a catástrofe que havia se abatido sobre seus conterrâneos em Tomé-Açu, no interior do Pará.Uma praga nos anos 1970 dizimou as plantações das famílias japonesas que haviam formado, naquele pedaço da Amazônia, a então terceira maior colônia nipônica no Brasil.Foi quando Sakaguchi, na época diretor da cooperativa dos agricultores locais, pregou uma mudança radical: em vez de cultivar uma só espécie, eles deveriam se espelhar na diversidade da Floresta Amazônica. E deveriam aprender com vizinhos que estavam em Tomé-Açu há mais tempo do que eles: os ribeirinhos. Pule Matérias recomendadas e continue lendoMatérias recomendadasFim do Matérias recomendadas"Ele (Sakaguchi) via o ribeirinho produzindo com harmonia", conta à BBC News Brasil o agricultor Michinori Konagano, membro da colônia e um dos principais discípulos do ex-diretor da cooperativa.Konagano, de 65 anos, é um dos 46 mil japoneses que migraram do Japão para o Pará entre 1952 e 1965. Ele veio com os pais, aos 2 anos de idade.Da varanda espaçosa na fazenda onde Konagano recebeu a equipe da BBC News Brasil, sente-se o aroma agridoce do cacau em fermentação. Guardadas em armazéns, as amêndoas de maior qualidade são exportadas para fábricas de chocolate no Japão. A fazenda também produz, em 230 hectares de área cultivada, vários outros tipos de frutas, como açaí, cupuaçu e pitaya, além de madeira e óleos vegetais. Legenda do vídeo, Colônia japonesa cria 'florestas de comida' no Pará e vira referência contra desmatamentoSe hoje Konagano convive com a abundância e sua propriedade é vista como referência na região, ele conta que, na infância, chegou a passar fome."Perguntava para minha mãe e meu pai: 'por que tem tanta fartura na natureza, mas nosso quintal é pobre?'", diz. Na época, a família era adepta de outro modelo de produção, comum em grande parte da Amazônia: derrubar a floresta e cultivar um só tipo de alimento, em monocultura."Hoje, eu me sinto culpado por ter derrubado e queimado. A degradação foi muito grande naquela época", lembra.Pule Podcast e continue lendoPodcast traz áudios com reportagens selecionadas.EpisódiosFim do PodcastAs coisas só começaram a mudar quando, guiada por Sakaguchi, o diretor da cooperativa, a família de Konagano adotou o novo modelo de produção inspirado nos ribeirinhos.Segundo Konagano, Sakaguchi notou que os ribeirinhos tinham ao redor de suas casas árvores frutíferas de várias espécies que lhes davam colheitas ao longo do ano todo. "Eles não tinham tanto recurso financeiro, mas tinham uma vida saudável", diz Konagano.As famílias japonesas começaram a testar esse modo de produção, em escala maior e de forma padronizada. Nos campos de pimenta arrasados pela praga fusariose, espalharam árvores de grande porte e várias frutíferas, experimentando diferentes combinações.Desde então, os campos abertos e degradados de suas fazendas voltaram a ter aspecto de floresta. Animais que tinham sumido - como preguiças-reais, raposas e pacas - reapareceram.E a comunidade, que antes dependia de um só produto, passou a ter várias fontes de receita. Ao longo do processo, o grupo se tornou ainda um exemplo para pesquisadores e agricultores de vários países que buscam alternativas a métodos agrícolas convencionais e que buscam maneiras de gerar renda sem destruir a Amazônia Leia mais sobre sistemas agroflorestais nestas outras reportagens: Crédito, Felix Lima/BBCLegenda da foto, Casarão de família japonesa em Tomé-Açu erguido nos anos de bonança da pimenta-do-reino'Era só mata'O êxito do novo sistema fez Tomé-Açu recuperar parte da diversidade que tinha quando os primeiros japoneses chegaram ali.“Era só mata”, lembra Hajime Yamada, última pessoa viva presente na primeira leva de imigrantes a aportar em Tomé-Açu.Hoje com 96 anos, Yamada tinha 2 quando seus pais chegaram ao Brasil a bordo do navio Montevideo Maru, em 1929. Yamada mora em uma imponente casa de madeira erguida nos tempos de bonança da pimenta-do-reino, nos anos 1950. Na construção de dois andares, feita conforme antigas técnicas arquitetônicas japonesas, colunas e vigas são unidas por encaixes, e não há pregos nem parafusos. Retratos de seus antepassados e quadros com ideogramas japoneses - condecorações recebidas por seu papel na comunidade - enfeitam as paredes da sala. Crédito, Felix Lima/BBCLegenda da foto, Onça-pintada capturada nos arredores da casa de Hajime Yamada em Tomé-AçuA primeira casa de Yamada em Tomé-Açu, no entanto, era bem diferente."Era uma barraca coberta de cavaco, piso de chão. Só tinha sala,

Fevereiro 7, 2024 - 13:12
Uma viagem ao pedaço da Amazônia onde se fala japonês
Uma viagem ao pedaço da Amazônia onde se fala japonêsCrédito, Felix Lima/BBCLegenda da foto, Hajime Yamada é última pessoa viva presente na primeira leva de japoneses a aportar em Tomé-Açu, em 1929.Article informationAuthor, João Fellet e Felix LimaRole, >>>

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