Bancos questionam plano de recuperação do Agrogalaxy
Instituições financeiras criticam proposta de privilegiar fornecedor “parceiro” e onerar demais credores com corte de 85% O plano de recuperação judicial do Agrogalaxy gerou forte oposição de grandes credores, principalmente dos financeiros. Eles afirmam ter sido preteridos no plano, que privilegia os fornecedores de insumos. Leia também Agrogalaxy diz que atenderá clientes de lojas fechadas até colheita Como o Agrogalaxy caiu de bilhões para milhões em valor de mercado A distribuidora de insumos, que listou dívidas de R$ 3,7 bilhões e US$ 159,9 milhões em seu pedido de recuperação judicial, propõe em seu plano protocolado na Justiça de Goiás em 2 de dezembro que os credores que não se encaixarem na definição de “parceiros” — fornecedores de insumos que não questionarem o plano na Justiça e mantiverem o fornecimento à empresa — terão seu crédito cortado em 85%. “Um credor não pode receber de forma privilegiada em detrimento de outro se as condições desses credores são as mesmas”, defende o advogado Rodrigo Lopes, sócio do escritório Martinelli Advogados, que representa dois credores financeiros, cujos nomes não revela. Para ele, o segmento financeiro foi o mais penalizado. Os principais credores da empresa são do ramo financeiro, como a Vert Securitizadora, com crédito de R$ 516 milhões, Banco do Brasil (R$ 391 milhões), Santander (278 milhões) e Citi (106 milhões), o que já perfaz cerca de um terço da dívida em reais. Segundo Lopes, ao definir quais credores seriam “parceiros”, a distribuidora excluiu os credores financeiros da categoria. “O mercado financeiro não deixa de ser um fornecedor, e ele não está nem listado entre os fornecedores que poderiam ser parceiros”, argumenta. O ideal, defende, “é um plano que não traga descontos tão agressivos e condições tão desfavoráveis, de uma forma mais próxima possível do equilíbrio”. Saiba-mais taboola Na avaliação do advogado, a companhia favoreceu produtores rurais e fornecedores para manter as operações. “Isso sugere que a empresa não está em crise, mas sim tentando transferir o ônus da recuperação exclusivamente para alguns credores”, critica Lopes. Ele defende que, caso a empresa tenha condições de continuar operando com todos os outros parceiros, um ajuste administrativo e gerencial poderia ser mais urgente que uma recuperação judicial. Antes da apresentação do plano, bancos como o Santander e o Banco do Brasil já haviam apresentado objeções à recuperação judicial para a retenção de recebíveis e execução de dívidas. As condições também não estão agradando aos fornecedores de insumos. O advogado André Passos, do escritório Passos e Sticca Advogados Associados, que representa a Santa Clara Agrociência, vê a estratégia como uma tentativa de garantir novos financiamentos, mas que acaba aumentando a exposição dos parceiros ao risco. Para ele, o plano coloca os fornecedores como principais investidores da empresa. No plano, o controlador Aqua Capital se compromete a realizar um aumento de capital de R$ 150 milhões e a conceder R$ 237 milhões em mútuo, mas somente após a aprovação das condições propostas pelo Agrogalaxy. Procurado, o advogado do Agrogalaxy na recuperação judicial, Gustavo Salgueiro, afirmou que a empresa “está priorizando as conversas com os credores que, desde o primeiro momento da recuperação judicial, se mostraram predispostos a apoiar as empresas” ligadas ao grupo. Ele disse ainda que o plano protocolado “reflete parte das negociações com esse grupo de credores”. Salgueiro disse ainda que a companhia manterá diálogo com os demais credores para “obter os consensos necessários para aprovação de seu plano”. Porém, o advogado da Santa Clara Agrociência critica a falta de transparência no processo. Segundo ele, a comunicação tem se limitado aos autos do processo, e não estaria claro o que o Agrogalaxy pretende fazer para se manter nas atividades, e sequer se teria reputação para fazê-lo. Outro advogado, que representa duas empresas no processo, entre elas uma grande empresa química fornecedora de longa data do Agrogalaxy, disse à reportagem que, “diferentemente do que a companhia afirmou, eles falaram com pouquíssima gente a respeito do plano, e não está muito claro no documento qual é o plano de negócio para se recuperar”. Para Lopes, do escritório Martinelli, este primeiro plano não precisaria, necessariamente, de diálogo com os credores. No entanto, “é óbvio que o melhor caminho seria essa discussão desde o início, porque economizaria tempo”. As ações do Agrogalaxy fecharam ontem na B3 em alta de 25%. Amanhã, a companhia apresenta o balanço financeiro do terceiro trimestre do ano, após atraso na divulgação.
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