Frigoríficos devem enfrentar aperto nas margens em 2025
Arroba do boi tende a subir e a elevar custos, com impacto maior para pequenas e médias indústrias; exportação seguirá favorável O ano de 2025 será marcado pela virada no ciclo da pecuária de corte, com redução da oferta de bovinos para abate, o que significa custo mais alto da arroba e margens mais apertadas para os frigoríficos. Nos grandes, a exportação e a diversificação de proteínas devem ser as válvulas de escape, mas entre os pequenos e médios frigoríficos já há preocupação. Saiba-mais taboola A arroba bovina acumula valorização de 23,32% desde janeiro até a última sexta-feira, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), e a tendência é de novas altas no próximo ano, à medida que a oferta de animais para abate vá se tornando mais restrita. Paulo Mustefaga, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) estima que, em média, 60% da produção nacional de carne destinada ao consumo interno venham de frigoríficos pequenos e médios, que serão os mais afetados pela pressão das margens. Muitos não poderão surfar a alta do dólar, pois não exportam, e outros não têm acesso aos compradores internacionais mais relevantes, como China e Estados Unidos. “A perspectiva para a exportação do ano que vem continua muito favorável. A China vai continuar comprando devido aos hábitos alimentares da população, embora tenha tido uma diminuição no ritmo do crescimento da economia lá”, observa Mustefaga. A participação da China nas compras de carne bovina brasileira caiu. O país asiático era o destino de 48,4% das exportações brasileiras entre janeiro e novembro do ano passado. No mesmo período de 2024, a fatia caiu para 41,1%, conforme dados da associação. Ainda assim, permanece na liderança entre os clientes internacionais. Os Estados Unidos, que ampliaram de forma expressiva as compras de carne brasileira e assumiram a segunda posição no ranking dos clientes, passaram a ser “uma incógnita”, diz Mustefaga, pois há incertezas sobre a gestão de Donald Trump, que tomará posse em janeiro. “Eles [EUA] estão passando por um processo de redução de oferta [de gado], mas ainda não sabemos quais políticas serão implementadas e podem impactar não só o Brasil como outros mercados”, afirma o dirigente. “Esperamos que não tenha esse impacto, mas se tiver, o mercado vai se ajustar com outros compradores”, avalia. Gustavo Troyano, analista do Itaú BBA, ressalta que, historicamente, a exportação já é mais rentável que o mercado interno. Então, com o patamar do dólar elevado, “quem tem capacidade para exportar, vai exportar”. “Pensando no ano que vem e indo para 2026, vemos uma virada no ciclo na pecuária e que pode se converter em preço [mais alto do gado], com cenário mais inflacionada no mercado interno também para a carne bovina”, afirma. Até que ponto o consumidor pode suportar o repasse de preços nas gôndolas? O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), observa que as carnes bovinas subiram 9,63% no varejo em 12 meses até novembro, de acordo com o IPC-M do FGV Ibre. “Só em novembro de 2024, a alta [no preço da carne] foi de 6,1%, e pode subir mais em dezembro”, afirma o economista. Se o preço da carne bovina subir muito, o consumidor pode migrar para outras proteínas, como frango e suínos — o que favorece as empresas que atuam nesses segmentos. Saiba-mais taboola Na avaliação de Oswaldo Ribeiro Júnior, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), o mercado interno é quem dita os preços da carne e da arroba “e não suporta preços abusivos”. “Vai ficar esse jogo entre custos dos frigoríficos e o mercado varejista para ver como será o valor da arroba, mas a arroba também não vai baixar para menos de R$ 300”, projeta. A queda nos preços do boi gordo neste mês não altera as expectativas de alta para o ano que vem, de acordo com o analista da Datagro Pecuária, João Figueiredo. “A arroba ainda deve experimentar novas altas. É natural, quando se tem um rali [alta forte] de preços como o dos últimos meses, vir essa correção”. “A pequena indústria, que é responsável principalmente por abastecer o mercado doméstico, tem de comprar o boi mais caro, mas não está recebendo em dólar, não está exportando para a China e grandes mercados. Essa indústria é a que vai ser mais impactada”, reforça o presidente da Abrafrigo.
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