Como avançar na agenda de bem-estar animal
Muitos governos e atores do setor privado também têm incorporado o tema como parte essencial das metas de sustentabilidade Nas últimas décadas, o bem-estar animal evoluiu de tópico emergente a tema central na agenda de sustentabilidade/ESG. Embora reconhecido há tempos como crucial para enfrentar crises ambientais e promover o desenvolvimento sustentável, a Organização das Nações Unidas (ONU) recentemente reforçou seu foco no tema. Saiba-mais taboola Em 2022, por exemplo, os Estados-membros adotaram uma resolução destacando o papel do bem-estar animal no enfrentamento de desafios ambientais, na abordagem One Health e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Muitos governos e atores do setor privado também têm incorporado o tema como parte essencial das metas de sustentabilidade. Hoje, há consenso de que o bem-estar animal promove segurança alimentar e saúde, reduzindo estresse e doenças, o que, consequentemente, aumenta a longevidade e minimiza o uso de antibióticos. Assim, além de uma questão ética, tornou-se peça-chave na solução de vários desafios dos sistemas alimentares atuais. Globo Rural Pressões e desafios atuais O número de empresas que publicam relatórios de sustentabilidade cresceu consistentemente na última década e está se tornando cada vez mais obrigatório. Com a pressão migrando do fornecimento de dados para a entrega de resultados, muitas empresas têm reavaliado e ajustado suas prioridades. Temos visto que antecipar-se às mudanças legais e de mercado é mais seguro e econômico do que adotar medidas urgentes diante de riscos à reputação. A indústria alimentícia enfrenta demandas crescentes por rastreabilidade e controle de qualidade, além de exigências por transparência e divulgação de progresso. O Business Benchmark on Farm Animal Welfare tem destacado que alguns investidores utilizam o bem-estar animal como parâmetro para avaliar o desempenho geral de sustentabilidade de uma empresa. Quem é responsável? Nas últimas décadas, grandes marcas têm sido pressionadas a adotar práticas mais sustentáveis, utilizando seu poder de compra para influenciar a cadeia de valor. No entanto, o avanço depende de diversas partes, como fazendeiros, processadores, varejistas, restaurantes, supermercados e investidores. Os varejistas, por exemplo, lideram compromissos de bem-estar animal, frequentemente em resposta à demanda dos consumidores, impulsionando mudanças junto aos fornecedores. Já os produtores, diretamente ligados aos animais, necessitam de apoio, segurança e planejamento de longo prazo oferecidos pelos compradores. Outro destaque é o setor de pet food, onde a proteína animal está presente em mais de 93% dos produtos globalmente. No Brasil, segundo maior produtor mundial, o mercado cresce 5,6% ao ano, alinhando-se à tendência de dietas mais ricas em proteínas. Esse contexto reforça a importância do diálogo e de objetivos sustentáveis entre o setor e a cadeia de proteína animal. A importância do aumento da colaboração na cadeia de valor Barreiras à sustentabilidade – como financeiras, regulatórias, sociais, culturais, organizacionais, tecnológicas e de mercado – dificultam a implementação de práticas sustentáveis na complexa cadeia de suprimentos da indústria alimentícia. Leia mais opiniões de especialistas e lideranças do agro A fragmentação interna e externa das empresas, com departamentos e atores operando sob diferentes prioridades e sistemas, reforça que esforços individuais são insuficientes. É essencial adotar uma cultura de colaboração, tanto internamente quanto entre os diversos participantes da cadeia. Coalizões têm se mostrado eficazes ao alinhar expectativas, promover objetivos compartilhados e evitar conflitos de agenda. Além disso, oferecem vantagens financeiras ao compartilhar custos, reunir recursos e mitigar riscos, fortalecendo a resiliência e a segurança da cadeia de suprimentos na transição para sistemas alimentares mais sustentáveis. O avanço do bem-estar animal como tema integral de sustentabilidade é evidente, mas exige novas abordagens para acelerar o progresso. A união dos principais participantes da indústria brasileira de proteína animal, como a realizada pela Colaboração Brasileira de Bem-Estar Animal (Cobea), uma iniciativa de cooperação pré-competitiva inédita no sul global, criada com o propósito de promover o bem-estar animal, representa uma oportunidade de tratar essas questões complexas de forma colaborativa, superando as limitações dos esforços individuais. *Elisa Tjarnstrom é consultora de bem-estar animal e diretora executiva da Cobea OBS: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural
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