Cooperativa de mulheres indígenas quer exportar com sustentabilidade social e econômica
“Agricultoras não podem ser apenas fornecedores que recebem a menor parte do lucro” Cooperativas e pequtaroenos empresários têm buscado aliar conhecimentos tradicionais a práticas modernas para o desenvolvimento ambiental, social e econômico. O objetivo é exportar produtos típicos da América do Sul a outros países, com a preocupação de que a riqueza gerada fique na região. "As agricultoras não podem ser apenas fornecedores que recebem a menor parte do lucro. Elas são co-proprietárias da fábrica de processamento e estão presentes em todas as etapas da cadeia de valor", afirma Tania Lieuw-A-Soe, presidente da cooperativa feminina Wi! Uma Fu Sranan, ou "nós, as mulheres do Suriname", na tradução. Saiba-mais taboola No Suriname, um país vizinho do Brasil, ao norte do estado do Pará, a cooperativa busca explorar a herança cultural indígena para transformar o cultivo da mandioca e do taro, um tipo de raiz tuberculosa semelhante ao inhame. Após a produção, a Wi! Uma Fu Sranan leva a colheita para uma indústria própria, onde a mandioca e o taro serão transformados em farinhas, mingau, panquecas e, até mesmo, “carne” vegana e sem glúten. Na fábrica são produzidos, ainda, óleos de plantas nativas, com propriedades medicinais muito utilizadas pelas comunidades indígenas, como a andiroba, amanhaú e buriti. "Não estamos reinventando a roda", explica Tania. "Ao invés disso, estamos profissionalizando o que já existia, transformando os sistemas alimentares e adaptando o n conhecimento tradicional às demandas do mercado global". "As culturas que estamos escolhendo e trabalhando são variedades tradicionais nativas que, por décadas, forneceram renda e segurança alimentar para os povos nativos. Isso significa que todas elas [mulheres indígenas] sabem cultivar de olhos fechados, especialmente com essas variedades", comenta Tania. Tania explica que o trabalho realizado busca demonstrar o poder transformador da união entre o conhecimento tradicional e práticas modernas para o desenvolvimento sustentável. Se, de um lado, há mulheres com conhecimento prático e ancestral, de outro há aquelas que tiveram o acesso à educação formal, e que puderam oferecer outros tipos de conhecimento, como o de processamento de alimentos para ir além do cultivo primário. Essa união de saberes é a base do modelo de negócio. Recentemente, Tania representou a Wi! Uma Fu Sranan no LacFlavours Brasil, um evento em Manaus voltado para pequenas e médias empresas da América Latina e Caribe que desejam exportar seus produtos. Organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o evento foi uma oportunidade para a cooperativa apresentar seus produtos e buscar novas parcerias, e a expectativa é que as reuniões realizadas rendam frutos traduzidos em negócios. No entanto, a maior preocupação da cooperativa é de que qualquer riqueza gerada com uma possível exportação seja compartilhada com toda a cadeia de produção. Para isso, a Wi! Uma Fu Sranan defende a negociação de contratos justos, o incentivo ao meio ambiente, ampliar o acesso econômico dos membros e a participação plena nos processos de decisão. Atualmente, a cooperativa conta com 38 integrantes e gera 17 empregos diretos. Tania acredita que este modelo garante que os benefícios retornem para a comunidade, promovendo a inclusão social e a valorização da cultura local. “Precisamos estar inseridos em cada etapa e, somente assim, poderemos construir um futuro sustentável para todos". * A repórter viajou a convite do BID
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